Título: Lula diz que é cobrado por coisas que antecessores não fizeram há 30 anos
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2006, Nacional, p. A18

Presidente volta a apontar falta de investimento em educação como origem das organizações criminosas no País

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou ontem que as ações criminosas ocorridas em São Paulo são fruto da falta de compromisso de governos anteriores com a educação. Disse que está com "apenas 41 meses" de governo, mas, mesmo assim, de vez em quando lhe cobram o que não foi feito nos últimos 30 anos. "E passam a dizer ao povo o que a gente já deveria ter feito", afirmou Lula, sugerindo não ter responsabilidade nos episódios paulistas.

"Vocês viram o que aconteceu em São Paulo a semana passada, vocês acompanharam pela televisão e todos nós ficamos muito nervosos, ficamos muito irritados", discursou o presidente, em um palanque armado na Praia do Forte, em Natal, para uma platéia formada em sua maioria por jovens. "Aqueles que estão hoje presos, na década de 80 tinham quatro ou cinco anos de idade", disse. "Se a gente tivesse investido em educação, em emprego, na década de 80, certamente muitos dos que são bandidos, hoje seriam pessoas de bem, trabalhadoras."

"Eu prefiro gastar um milheiro de tijolo para colocar uma criança na escola do que gastar um tijolo para prender um adolescente ou prender um marginal", continuou o presidente, ao frisar que no seu governo é proibido utilizar a palavra "gasto" ao se tratar de assuntos ligados à educação.

"Isto é investimento, gasto é quando se faz uma cadeia", argumentou Lula. "Se nós investirmos corretamente na educação, certamente vamos colher uma geração melhor do que a que herdamos."

REELEIÇÃO

Sorridente, satisfeito, brincalhão, Lula chegou à Praia do Forte ao som de uma banda de forró que animava a platéia. Faixas de apoio à reeleição do presidente e da governadora do Rio Grande do Norte, Vilma de Faria (PSB), foram esticadas em todo o local. À vontade, sem enfrentar protestos, o presidente deu autógrafos e recebeu uma camiseta com a imagem do ex-governador de Pernambuco e ex-presidente do PSB Miguel Arraes.

Depois, tirou uma foto ao lado de um integrante do Movimento Livre Brasil (MLB), com uma bandeira do movimento de sem-teto, que participou da assinatura de um repasse a fundo perdido para a construção de moradias em áreas pobres. Sob uma chuva fina, Lula foi abraçado, beijado e cumprimentou os que conseguiram ficar perto da grade que cercava o palanque.

Antes de ir embora, Lula desceu e conversou com eleitores. Ao enumerar as ações realizadas na área educacional, considerou o Pró-Jovem "uma revolução" para cuidar dos jovens, que, segundo ele, se expandirá a cada ano "até não se ter mais um só jovem fora da escola e ganhando ajuda para trabalhar". Ao público, que incluía muitos estudantes beneficiados com programas governamentais, Lula disse que, com a aprovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), serão injetados mais R$ 4,3 bilhões na educação.

Lula chegou por volta das 11 horas no local, viu de perto as obras da ponte Newton Navarro, de 1,8 quilômetro, que deve ser concluída ainda este ano, ligando o litoral sul ao litoral norte de Natal.

Às 11h50 ele iniciou o discurso, depois de ouvir a governadora e o prefeito da capital, também do PSB. Após a fala afinada com a da governadora, o presidente seguiu para a residência oficial, no bairro do Morro Branco, onde almoçou e conversou com líderes locais.

Lula deixou o local às 14 horas, sem dar entrevistas, para pegar um helicóptero para Guamaré, a 200 quilômetros de Natal, onde participaria de outro evento. A chuva, porém , o impediu de viajar e ele foi representado pela Petrobrás.