Título: Ele diz que Serra tem 'amnésia' e Alckmin não liga
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2006, Nacional, p. A14

Governador volta a alfinetar tucanos pela crise na segurança

Desde o início da crise da segurança pública em São Paulo, o governador Cláudio Lembo (PFL) tem se mostrado ousado nas declarações. Ele assumiu a responsabilidade pelo clima que tomou conta do Estado, mas o tom irônico de suas entrevistas sugere que, na opinião dele, os antecessores têm sua parcela de culpa.

Ontem, Lembo continuou ironizando o distanciamento mantido por Geraldo Alckmin. "Falamos hoje pelo telefone. Fiquei muito grato pelo apoio dele", relatou. Indagado sobre a duração da conversa, respondeu: "Foi bem curta. O impulso continua muito caro."

O governador diz que, durante a crise, recebeu apenas dois telefonemas de Alckmin, embora o ex-governador sustente ter telefonado todos os dias. "Se ele disse isso, acredito nele. A verdade é relativa", afirma Lembo. O ex-prefeito José Serra, segundo ele, também continua distante. "Não ligou, deve ter esquecido. Mas também eu não espero (ligação de Serra)".

Em entrevista ao site Terra, veiculada ontem, o governador foi mais ácido. "Pode ser um problema de amnésia, eu compreendo", disse. "Ele está nos Estados Unidos (...) Talvez ele não tenha acesso a meios de comunicação brasileiros e não viu, não assistiu. Ou não quis eventualmente se envolver em episódio tão amargo e triste. Quis se preservar", disse o governador.

Sobrou até para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que estava com Serra em Nova York. FHC havia criticado o governo paulista por ter negociado com o PCC. "Não negociamos, fizemos o possível para poupar vidas", justificou Lembo, reclamando que também não recebeu telefonema de FHC.

O governador Lembo nega que suas críticas ao PSDB tenham provocado reações dentro do PFL. Afirma que, ao longo do dia, recebeu telefonemas da senadora Rosena Sarney (MA), do deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), do presidente do partido, Jorge Bornhausen (SC), do senador Marco Maciel (PE) e do presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo, Rodrigo Garcia. "Todos apoiaram a minha posição."

FOGO AMIGO

O fato é que suas críticas não têm poupado nem mesmo o seu partido. Lembo contou que desde que começou a criticar a posição de seus antecessores e da "elite branca brasileira", na sua primeira entrevista, recebeu cumprimentos apenas da esquerda, com exceção da senadora Roseana Sarney e do presidente Jorge Bornhausen.

De acordo com Lembo, Bornhausen "certamente não concorda com o conteúdo de suas declarações", mas reconhece o seu direito de dizer o que pensa. Sobre os demais caciques do partido, disse que "eles estão refletindo". E criticou: "Vão me ligar quando desembarcarem... daqui a 500 anos." É uma piada. Em uma entrevista, Lembo disse ser frase sua a afirmação de que o PFL está há 500 anos no poder no País.

Lembo disse ter recebido apoio também do prefeito Kassab e de Rodrigo Garcia. "Kassab gostou muito do que tenho dito. Rodrigo me apoiou - o jovem sempre vibra com situações novas", explica. "Recebi críticas de todos os segmentos que querem liderar a sociedade de forma mais áspera. Compreendo que eles façam isso. Mas eu, com a minha história, ia fazer isso? Jamais."