Título: PF investiga assessores e mulher de Janene
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2006, Nacional, p. A8

Segundo força-tarefa, movimento de suas contas chega a milhões de reais

Uma força-tarefa conjunta da Polícia Federal e da Receita vai analisar documentos e o conteúdo dos computadores apreendidos quinta-feira no escritório do deputado José Janene (PP-PR), na casa de um casal de assessores dele, em Londrina, e em escritórios em São Paulo ligados à empresa Taha Administração e Construção, de propriedade de uma offshore localizada no Panamá. A análise, segundo o delegado da PF Gerson Marchado, deverá estar concluída dentro de quatro meses.

A PF investiga a procedência e o destino de milhões de reais movimentados pela mulher do deputado, Stahel Fernanda, e por dois assessores dele, Meheidin Hussein Jenani e Rosa Alice Valente. O dinheiro teve como origem a corretora Bônus Banval - apontada pela CPI dos Correios como o canal utilizado pelo publicitário Marcos Valério para repassar dinheiro ao PP, então liderado por Janene na Câmara -, a Taha e outra corretoras que estão sendo investigadas pela PF. A maior parte do dinheiro veio do exterior e seria procedente do valerioduto.

Janene é o único dos deputados acusados de se beneficiar o mensalão que ainda não foi julgado pelo Conselho de Ética da Câmara, por estar em licença médica desde setembro passado. Sua mulher e seus assessores passaram a ser investigados em 2004 pela PF a pedido do Banco Central, que desconfiou da disparidade do volume de dinheiro movimentado e suas declarações de rendimentos. Meheidin, por exemplo, declarava um salário de R$ 1,8 mil e movimentou num único mês mais de R$ 300 mil.

IMÓVEIS

A PF disse ter indícios de que parte do dinheiro destinado pelo valerioduto a Janene tenha sido utilizado na aquisição de imóveis e outros bens que estão em nome de sua mulher, entre eles uma mansão de mil metros quadrados que está sendo construída, avaliada em R$ 2 milhões, e uma dezena de propriedades agrícolas. Notas fiscais relativas a compra de material de construção foram encontradas em poder de Rosa e um cheque assinado por ela, no mesmo dia em que a Bônus Banval efetuou depósito em sua conta, foi usado como parte do pagamento de uma propriedade rural em Faxinal, no norte do Paraná.

O relacionamento entre Janene com Valério, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o ex-secretário-geral do partido Silvio Pereira era intenso, segundo concluiu a CPI dos Correios ao analisar as ligações telefônicas entre eles. Foram trocados 621 telefonemas em poucos meses.

A CPI apurou que Janene recebeu R$ 4,1 milhões do valerioduto. Mas, segundo a PF, as contas dos assessores e de sua mulher movimentaram valores ainda maiores a partir de 2003.