Título: Genoino aponta culpado pela sua queda: a mídia
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2006, Nacional, p. A8

Às vésperas de sair candidato, ex-presidente do PT divulga carta aos filiados, diz que tem orgulho do seu passado e anuncia retorno à militância

Um ano depois do início da maior crise política do governo Lula que o levou a deixar a presidência do PT e às vésperas de lançar sua candidatura a deputado federal, José Genoino rompeu o silêncio. Em carta endereçada aos militantes do partido, reproduzida em seu site (www.genoino.org) e igualmente divulgada na página do PT na internet ontem, Genoino fala dos erros cometidos pela sigla - diz que o principal deles é o caixa 2 -, critica duramente a imprensa e anuncia seu retorno à militância política. "De posse dos meus equívocos e acertos, orgulho-me do meu passado e não temo olhar para o futuro", escreve ele.

Avalista de dois empréstimos do PT junto aos bancos BMG e Rural, por intermédio de Marcos Valério - apontado ao lado de Delúbio Soares como operador do mensalão -, José Genoino perdeu o posto de presidente do partido de Lula em meio à crise. Acabou listado no relatório da CPI dos Correios e denunciado pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, como um dos 40 envolvidos no escândalo do mensalão.

Na carta de sete páginas, Genoino reconhece erros, mas não vê razão nem para ter seu nome listado pela CPI nem por ter sido denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF). Ao falar dos financiamentos, diz que o PT passava por dificuldades financeiras, mas ressalta que nos 30 meses em que comandou a sigla tratava de questões políticas, e não dos cofres do partido, à época sob a responsabilidade de Delúbio Soares. "Minhas tarefas não incluíram a administração das finanças do partido." Ele assegura não ter tido participação no episódio dos dólares na cueca - crucial para sua saída do PT. "A minha relação com o episódio de dinheiro encontrado com o assessor de meu irmão é simplesmente essa: a de ser irmão. Não existe nenhuma outra vinculação", afirma o petista para quem a "intensa e virulenta" exploração do fato teve como único objetivo atacar o PT. "Fui atingido sem ter nenhuma relação, nem com a causa nem com o efeito."

Ao avaliar a crise política, Genoino aponta que de todos o erros, o principal ocorreu na preparação para a campanha eleitoral. A origem de toda a crise, para ele, tem nome: o financiamento das campanhas eleitorais. "Preponderou a lógica de que a única alternativa política possível era uma grande e indiscutível vitória eleitoral. O projeto nacional foi, então, submetido às lógicas regionais."

Sobre a CPI, reclama ter aparecido no relatório "pelo simples fato de ter sido presidente nacional do PT" e assegura: "Não existe nenhuma outra razão concreta que justifique a inclusão de meu nome nas denúncias." Ao comentar a denúncia do MPF, diz que ela "é genérica e não descreve os fatos com sua devida conformação". A crítica mais dura, porém, é endereçada à imprensa. Diz que outra dimensão da crise, não menos "monstruosa e desumana", é a mídia e sua necessidade de criar manchetes. "Assim como o predador persegue sua caça, a mídia busca obsessivamente o espetáculo. Seu alimento predileto são as crises, sejam elas reais ou não. E, para sobreviver, julga e condena sumariamente, mistura público e privado, promove o vale-tudo. Transforma o mundo em Coliseu pós-moderno, tão sanguinário e horrendo quando o romano."

Por fim, avisa estar de volta. "Talvez menos ingênuo, talvez mais experiente. Mas, com certeza, mais calejado e mais animado. Com as esperanças e sonhos de sempre", finaliza.