Título: Uma corrida contra o tempo
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/06/2006, Economia & Negócios, p. B5

Cancelamento de vôos, ameaça de arresto de aviões e risco de ficar sem combustível. Enquanto o processo de reestruturação da Varig se arrasta, a companhia aérea enfrenta cada vez mais dificuldades para manter as operações. O leilão da empresa completa hoje dez dias.

A companhia foi vendida ao Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), mas a primeira parcela de US$ 75 milhões, prevista no edital para garantir um alívio no caixa da empresa, ainda não foi paga. A Varig tem até quarta-feira para convencer a Corte de Nova York de que o processo de reestruturação vai dar resultados e, assim, evitar o arresto de 25 aviões por falta de pagamento. Mas, mesmo sem perder as aeronaves, os passageiros começam a sentir os transtornos provocados pela falta de recursos. Cerca de 20 vôos são cancelados diariamente, com justificativas diversas, desde atraso na manutenção a mau tempo nos aeroportos.

A Varig tem se desdobrado para manter a regularidade das operações. A direção reúne-se diariamente para discutir a situação e resolver problemas imediatos. Todo incidente é motivo de especulações. Na sexta-feira, um problema no trem de pouso de um avião que chegava a Brasília levantou suspeitas sobre a manutenção da frota.

Especialistas no setor não acreditam que a empresa venha a tirar do solo aviões sem manutenção, e tranqüilizam os passageiros. Esse cuidado estaria por trás do cancelamento de alguns vôos, apesar de a Varig repetir que a suspensão diária é normal.

Mesmo assim, ela vem perdendo participação de mercado com rapidez impressionante desde o início da crise: segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a Varig ,que já teve mais de 50% do mercado, fechou maio na terceira posição, com 14,4%.

A queda de 30,7% no número de passageiros transportados por quilômetro, na comparação de maio com o mesmo mês de 2005, é preocupante para uma empresa que, antes do processo de reestruturação, já não conseguia pagar as contas com a receita das passagens.