Título: Ricos excluem os emergentes
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2006, Economia & Negócios, p. B16

Brasil, China e Índia querem mais espaço nos debates

Os ministros das finanças de Brasil, China e Índia estão insatisfeitos com o espaço que lhes têm sido concedido nas reuniões do grupo dos 8 países mais ricos, o G-8, e vão pressionar pela sua ampliação.Também decidiram fortalecer o G-20, grupo das principais nações em desenvolvimento.

"Não vejo porque não sermos incluídos nas discussões plenas do G-8", disse o ministro brasileiro, Guido Mantega, após se reunir com os colegas indiano e chinês. "Fica uma situação esquisita, pois você é convidado para a reunião do G-8, participa de uma parte da discussão e não da outra."

Mantega criticou o fato de o Brasil não ter sido incluído numa reunião que debateu a questão energética. "Imagina o Brasil não participar da discussão de energia, sendo hoje o país que apresenta mais alternativas energéticas no mundo".

Nos últimos anos, os três países emergentes têm sido convidados para as reuniões de ministros e da cúpula do G-8, com exceção de 2004, nos Estados Unidos. Essa participação resultou no uso do termo G-11, mas o espaço dos três emergentes é sempre limitado a algumas reuniões, ficando de fora da elaboração do comunicado final.

"Temos participado como convidados, mas gostaríamos de ter uma integração maior, pois, afinal, representamos uma parte importante da economia mundial", disse Mantega. "Graças a esses países, o nível de inflação no mundo é mais baixo, pois eles injetam produtividade e redução de custos na economia e, portanto, são importantes protagonistas do desenvolvimento global.

Ele acrescentou que os três países são bem equilibrados do ponto de vista orçamentário, além de terem se tornado doadores de recursos a nações mais pobres.

COMBATE À POBREZA

Mantega fez uma palestra aos ministros dos G-8 sobre mecanismos de financiamento de combate à pobreza do mundo. Além de sublinhar a necessidade de adoção de métodos alternativos, como a taxa sobre passagens aéreas proposta pela França e Brasil, observou que uma liberalização do comércio mundial para produtos agrícolas seria um fator importantes para ajudar os países pobres.

"Não adianta criar mecanismos de ajuda aos pobres se as barreiras para os produtos agrícolas nas nações ricas não forem derrubadas", disse. "É imperioso superar o impasse nas negociações da rodada de Doha." O chanceler britânico Gordon Brown e o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, John Snow, manifestaram apoio a essa posição.