Título: Negociação com Bolívia empaca
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2006, Economia & Negócios, p. B5

Do lado brasileiro, há a percepção de que bolivianos tentam ganhar tempo para depois impor solução de força

Os negociadores da Petrobrás e do governo brasileiro que participam das reuniões semanais com a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), estatal boliviana que assumiu o setor de petróleo e gás a partir do decreto de nacionalização de Evo Morales, já temem o fracasso das negociações na Bolívia. Nesta semana, Petrobrás e YPFB se encontraram para a 5ª rodada de discussões. A reunião terminou sem nenhum avanço.

Segundo o relato de uma fonte, já há receio de que esse esforço para se chegar a um acordo satisfatório para ambas as partes tenha se tornado "inútil". Novamente não houve progressos sobre temas como compensações pelas refinarias Gualberto Villarroel, de Cochabamba, e Guillermo Elder Bell, de Santa Cruz, que serão devolvidas pela Petrobrás. A estatal brasileira se recusa a ser sócia minoritária do negócio e ter a YPFB como administradora.

Segundo a fonte ouvida pelo Estado, os negociadores brasileiros começam a achar que a morosidade das negociações não é apenas despreparo dos representantes da YPFB e do governo boliviano, mas uma ação deliberada para justificar mais adiante um rompimento, sob argumento de que o Brasil não mostra esforços para se chegar a uma acordo.

"Começa a surgir uma percepção de que os bolivianos estão tentando ganhar tempo para depois impor uma solução de força", revela a fonte sobre o relato de um negociador.

Nas conversas de quinta-feira em La Paz, o objetivo do encontro era discutir a devolução das duas refinarias e as compensações decorrentes. O assunto sobre o novo valor do gás natural importado pelo Brasil não chegou a ser debatido.

Também era o objetivo da reunião montar um cronograma para a saída da Petrobrás do comando dos ativos. Nenhuma conversa sobre esses temas foi conclusiva.

Novamente, os técnicos pediram documentos já entregues pelo Brasil, principalmente aqueles sobre a operação das duas plantas de processamento de petróleo. Segundo a fonte, o Brasil continuará a participar das reuniões semanais, ainda que sejam improdutivas.

Os negociadores brasileiros temem adotar uma postura que possa justificar acusação logo adiante de que tenham rompido unilateralmente o diálogo.

Uma das queixas dos negociadores brasileiros é a recusa das YPFB de fazer atas das reuniões. "Eles não querem nada por escrito, não aceitam fazer atas das reuniões", revelou. O ambiente dos encontros é, em geral, eivado de acusações contra a Petrobrás.

A estatal brasileira tem permanecido em silêncio. Procurada para comentar o andamento das negociações, preferiu mais uma vez não comentar nada do que ocorre nos encontros.

O prazo de 45 dias a partir do qual se abre a possibilidade de recorrer a arbitragem, como previsto em contrato, vence dia 23 de junho. Isso, se considerado como início de negociação o dia 10 de maio, quando uma comitiva chefiada pelo ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, esteve em La Paz.

INFORMAÇÃO FALSA

Ainda segundo a fonte ouvida pelo Estado, as informações divulgadas pelos negociadores bolivianos de que estão próximos de acordos com a Argentina são falsas. "As negociações com as demais empresas estão tão paradas quanto as com o Brasil", garante.