Título: Brasil tem inflação menor que EUA
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2006, Economia & Negócios, p. B1
Em fato inédito, IPC da Fipe subiu 2,57% em 12 meses, enquanto nos Estados Unidos a taxa ficou em 3,55%
O Brasil tem hoje uma inflação acumulada em 12 meses menor que a dos Estados Unidos, a principal economia mundial e com uma longa história de estabilidade de preços. O custo de vida no País também já é inferior ao de alguns países emergentes, como Índia, Turquia e Rússia, para o mesmo período.
Até abril, o Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) subiu 2,57% em 12 meses. No mesmo período, a inflação ao consumidor americana medida pelo Consumer Price Index (CPI), o índice oficial do custo vida do país, aumentou 3,55%.
"É primeira vez desde 1999, quando houve a mudança do câmbio fixo para o flutuante, que a inflação brasileira fica abaixo da americana em 12 meses", afirma o coordenador do IPC-Fipe, Paulo Picchetti.
Ele diz que esse resultado não significa que o Brasil seja mais estável que os EUA. Ao contrário, estudo inédito feito pelo economista revela que a dispersão dos preços, isto é, a diferença entre as cotações máximas e mínimas dos produtos e serviços dentro de cada mês, é quase o dobro no Brasil (74%) comparada com a dos EUA para um período de seis anos.
"A dispersão de preços aqui indica que o nível da nossa inflação é muito maior", diz Picchetti. Uma situação, exemplifica o economista, é ter uma inflação de 2% em 12 meses e a maioria dos preços oscilar em torno dessa média. A outra situação, que é o caso do Brasil, é a inflação acumulada girar em torno de 2%, mas com preços subindo muito, na faixa de 30%, e outros caindo na mesma proporção.
Para o economista, o que segura a inflação brasileira neste momento em níveis invejáveis são as duas âncoras verdes: o dólar e a agricultura. Tanto é que os itens que aparecem com forte queda de preço em 12 meses até abril no IPC-Fipe são os produtos agrícolas e os eletroeletrônicos. O celular, por exemplo, foi o item que mais caiu (35,8%), seguido pelo frango (21,1%) e o óleo de soja (15,4%). Na prática, eles dependem essencialmente do câmbio.
"O que pode ameaçar a estabilidade são exatamente as duas âncoras verdes", prevê Picchetti. Se houver uma desvalorização, como já vem se desenhando com as turbulências externas nas últimas semanas, esse movimento será transmitido rapidamente para os preços. "Esse é o primeiro fator de risco." O segundo, observa, é agricultura. Com a perspectiva de redução da área plantada ou algum problema climático, a oferta de alimentos pode diminuir e pressionar a inflação.
Picchetti diz que a manutenção da estabilidade nos níveis atuais é precária. Com mudanças no câmbio, a inflação pode subir, mas, ainda assim, os índices ficarão em níveis historicamente baixos. "Não será nada catastrófico, capaz de tirar o País da meta inflação de 4,5%."