Título: Clubes são trampolim de dirigentes para as urnas
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2006, Nacional, p. A10

O exemplo vem de cima: três dos atuais cinco vice-presidentes regionais da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) passaram a vida inteira na política: o da Região Sudeste, Nabi Abi Chedid, ex-deputado e ex-presidente do Bragantino; o da Região Sul, Emídio Perondi, ex-deputado e ex-dirigente do Internacional; e o da Região Norte, Fernando Sarney, filho de senador e ex-presidente da República, irmão de senadora e de deputado.

Mas ninguém misturou tanto futebol e política como Athiê Jorge Cury, presidente do Santos de 1945 a 1971. A partir do surgimento de Pelé, em 1956, ele viveu uma situação de sonho: se elegeu sucessivamente vereador, deputado estadual e federal, sempre à sombra mágica do rei. Já Márcio Braga, que agora é presidente do Flamengo pela terceira vez, elegeu-se deputado federal na esteira da vitória do Flamengo na disputa mundial interclubes, na década de 80, e da fama de Zico.

Eurico Miranda, eterno presidente do Vasco da Gama, sempre às turras com a imprensa e a oposição no clube, sempre alvo de denúncias, também se elegeu deputado federal surfando nas glórias do clube. O Bahia Esporte Clube foi a rampa de lançamento de duas eleições a deputado estadual - as de Marcelo Guimarães e Paulo Maracajá, ex-presidentes do clube.

O Corinthians tem dois exemplos de presidentes que cruzaram a ponte para a política, ambos eleitos deputados estaduais e em extremos opostos do arco ideológico: Wadih Helu e Adilson Monteiro Alves. No São Paulo, José Maria Marin, ex-presidente, foi governador biônico e depois deputado federal. Em Brasília, o ex-senador Luiz Estêvão, banido do Senado, criou o Brasiliense para servir de base a seu retorno à política.

O atual vice-presidente do Cruzeiro, Zezé Perrela, surfou na onda cruzeirense em 1998 e foi o segundo deputado federal mais votado em Minas, com 185.556 votos, pelo PFL. Em 2002 tentou o Senado e perdeu, mas teve 2,9 milhões de votos. Ele tem dito a amigos que vai tentar a Câmara de novo e ameaça levar junto o irmão, Alvimar Perrela, atual presidente do clube.