Título: Reeleito, Lula vai apostar em PPPs
Autor: Lu Aiko Otta, Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2006, Nacional, p. A8

Desenvolvimentismo teria destaque em eventual segundo mandato do PT, que pensa em priorizar infra-estrutura

Depois de um primeiro mandato em que o governo avançou na ortodoxia, integrantes da área econômica já preparam programa de trabalho para que eventual segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha uma cara um pouco mais à esquerda. A idéia é montar uma proposta ¿desenvolvimentista¿, centrada em investimentos, mas que ao mesmo tempo preserve os pilares do programa econômico do primeiro mandato e cuja combinação permita ao País crescer pelo menos 4% ao ano de 2007 a 2010.

Os investimentos deverão ser puxados pelas Parcerias Público-Privadas (PPPs), instrumento que combina dinheiro de empresas e do governo para viabilizar obras, principalmente em infra-estrutura. A avaliação é de que a expansão da rede de portos, rodovias, hidrovias e ferrovias vai abrir caminho para taxas mais robustas de crescimento econômico. As PPPs foram criadas sob a coordenação do então ministro do Planejamento, Guido Mantega, em 2004. Agora, como ministro da Fazenda e um dos encarregados de pensar o programa do PT, ele pretende dar força total a esse tipo de projeto. Nos últimos quatro anos, as PPPs federais avançaram a passos de tartaruga - menos do que em Estados governados pela oposição, como São Paulo e Minas Gerais. Duplicação da BR-116, obras na BR-163 e o chamado Ferroanel de São Paulo são candidatos a serem tocados com PPPs.

A meta de economizar a cada ano o equivalente a 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB), formando o chamado superávit primário, será mantida. Está clara na cabeça dos integrantes da equipe econômica a necessidade de nova reforma da Previdência, que deve pelo menos aumentar a idade mínima para aposentadoria.

Outro tema que pode estar na pauta é como melhorar o ambiente econômico do País, sobretudo para o setor industrial. Um sinal claro dessa prioridade foi a nomeação do secretário de Política Econômica, Júlio Gomes de Almeida, um desenvolvimentista ligado à indústria. Ele é defensor de juros menores, câmbio mais desvalorizado que o atual e crítico da elevada carga tributária.

Temas como reforma tributária também estarão na agenda, mas, a julgar pelo que aconteceu em tentativas anteriores, a tendência é a aprovação de um ¿remendo¿, com a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), que em tese deveria acabar em 2007.

Como não está no horizonte uma guinada brusca na condução da economia, a política de juros praticada pelo Banco Central (BC) promete continuar no centro do debate. No final deste mês, o Conselho Monetário Nacional (CMN) deverá reafirmar a meta de inflação para 2007, em 4,5%, e fixar a meta de 2008. Para o segundo ano do próximo mandato, a meta também tende a ser 4,5%. Ou seja, o BC continuará trabalhando com o mesmo objetivo deste ano. Portanto, tudo indica que não haverá espaço para cortes abruptos nos juros.