Título: 'Transferência de voto tem limite', avisa governador
Autor: Ana Paula Scinocca e Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2006, Nacional, p. A6

Para Aécio, convenção de hoje deve marcar uma nova fase na campanha: "O tempo do fogo amigo acabou"

Governador do segundo maior colégio eleitoral e dono de 76% das intenções de voto para um segundo mandato, o tucano Aécio Neves fez questão de que a candidatura de Geraldo Alckmin fosse lançada em Belo Horizonte para acabar com as intrigas de que não se engaja na campanha do colega. Mas ele ressalva que a boa vontade não significa que vá conseguir transferir todos os seus votos.

"O que pudermos fazer para ganhar a eleição faremos, mas essa transferência tem limite", avisa. "Infelizmente, essa não é a realidade da vida pública. Fosse assim, o PT teria eleito governadores em vários Estados, e só venceu no Piauí e no Acre."

Apesar disso, ele aposta que o desempenho de Alckmin melhorará muito em Minas. Aécio diz que a convenção tem de marcar nova fase da campanha. "O tempo do fogo amigo acabou", alerta. "É hora de muita responsabilidade para saber onde estão nossos adversários e definir com que estratégias vamos enfrentá-los e derrotá-los."

Na sua última visita a Minas, há dez dias, Alckmin foi sozinho a Governador Valadares e por isso alguns tucanos acusaram Aécio de "fazer corpo mole" na campanha. "Isto é uma mescla de má informação e má intenção. Nenhum Estado se mobilizou em favor da candidatura do Geraldo mais do que nós", contesta, ao lembrar que ele já visitou Minas três vezes e na última o governador mobilizou mais de 500 industriais para ouvi-lo.

"Minha presença lá (em Governador Valadares) jamais fora cogitada porque tinha outros compromissos agendados há mais de um mês. Não tenho o dom da ambigüidade nem da onipresença. Geraldo sabe que é candidato hoje pelo apoio que eu e alguns outros lhe demos."

A tucanos preocupados com sua boa relação com o presidente Lula e o PT do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, diz que construiu "uma vida pública sólida" sem usar a ofensa pessoal como arma. "Se alguns preferem fazer assim, têm liberdade para fazê-lo. Mas não contem comigo para isto nem me peçam para agir de forma diferente do que agi até aqui."

Suas observações se aplicam aos que cobram atitude mais agressiva de Alckmin. Ele diz que o ex-governador virou candidato por ter o perfil que tem. "Aperfeiçoar é possível, mas querer mudar o perfil do candidato é um equívoco, até porque não mudará. É com este perfil, sobretudo o da seriedade, responsabilidade e competência, que Geraldo vai se tornar conhecido e surpreender os que estão comemorando de véspera."

Ele admite que Lula sempre teve relação forte com Minas e desfruta hoje de "uma base sólida" no Estado. "Mas vamos enfrentar isto e, no limite do possível, acho que Alckmin terá bom desempenho em Minas."

Para ele, a melhora virá com o fim do monopólio de Lula na mídia, já que a propaganda institucional é proibida a partir de julho. Isso, argumenta, permitirá um equilíbrio maior na exposição dos candidatos.

Além disso, no quesito alianças, segundo Aécio, o PSDB está muito mais avançado do que o PT, pois já fechou com o PFL e o PPS. "Lula ensaiou, insinuou, convidou e até agora não consolidou aliança com absolutamente ninguém." O governador também acha que Alckmin terá mais apoio do PMDB do que o presidente. "Vamos trabalhar para isto até o último dia."

A seu ver, a maior dificuldade é o curto espaço de tempo para tornar Alckmin conhecido. "Temos de correr e temos todos de ajudar muito nisso." A maior virtude que ele vê no pré-candidato é o fato de ele ser muito bem aprovado onde é conhecido. "É um candidato limpo, correto e com uma história de administrador que preza a qualidade."