Título: PSDB faz convenção hoje em busca de engajamento
Autor: Ana Paula Scinocca e Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2006, Nacional, p. A6

Partido reúne caciques tucanos e tenta dissipar as intrigas em torno do pré-candidato Alckmin; presidenciável fará um discurso para o eleitorado

Na tentativa de sepultar a fase de intrigas e de fogo amigo, hoje o PSDB realiza em Belo Horizonte sua convenção nacional, com a presença dos principais caciques tucanos, que até aqui se esquivaram de se engajar efetivamente na campanha de Geraldo Alckmin ao Palácio do Planalto. A expectativa entre os tucanos é de que o evento, no qual são esperadas 10 mil pessoas, não seja apenas cena para a platéia. Porém, há quem aposte que, mesmo daqui para frente, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e o pré-candidato tucano ao governo paulista, José Serra, continuem descolados da campanha presidencial.

O distanciamento tem motivo: aproximando-se de Alckmin, Serra teme federalizar a campanha no Estado e trazer a força do presidente Lula para o seu principal adversário, o senador Aloizio Mercadante.

Outro motivo que reforça o afastamento de Serra da candidatura de Alckmin é que eventual crescimento do ex-governador paulista pode cacifá-lo para 2010, quando Serra espera, enfim, ser aclamado candidato do partido ao Planalto. O ex-prefeito diz que não. "Estamos sempre aqui prontos e disponíveis para o trabalho conjunto. A campanha é a mesma", afirmou Serra na última quinta, na primeira aparição em conjunto com Alckmin neste início de campanha.

DISCURSO

Hoje, na convenção nacional, Alckmin não fará um discurso para o partido, mas para o eleitorado brasileiro. Ele vai definir os principais pontos de seu programa de candidato, com ênfase nas propostas de política econômica e externa, educação, saúde e segurança pública. A abrangência do discurso foi decidida na reunião que juntou, no dia 29 de maio, na residência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo, o pré-candidato e mais o presidente do partido, senador Tasso Jereissati, além de Aécio e Serra.

Nessa reunião, todos insistiram com Alckmin que a convenção nacional deveria ser o momento da grande largada para sua campanha e o momento certo para a afirmação de um discurso que dissesse ao eleitorado brasileiro quais são os pontos principais de sua proposta de candidato. Um dos pontos mais repisados na discussão foi a abordagem do programa Bolsa Família, que os tucanos vêem como essencial na estratégia atual do presidente Lula.

Eles detectaram que a gestão petista aparelhou fortemente o programa e os agentes que controlam os contingentes de beneficiados espalharam, nos últimos meses, o boato de que um eventual governo tucano na sucessão de Lula acabaria com o Bolsa Família e os programas de complementação de renda.

A estratégia tucana, então, é, num primeiro momento, reafirmar a paternidade do Bolsa Família, cuja base foi criada no governo Fernando Henrique, e a afirmação peremptória de que um eventual governo tucano não vai extinguir o programa.

Numa segunda etapa, já durante a campanha eleitoral, Alckmin se encarregaria de comunicar a sua versão do programa, que prevê um Bolsa Família com "porta de entrada" e "porta de saída". Isso quer dizer que a versão tucana do programa vai contar com fortes incentivos de criação de postos de trabalho nas regiões onde o Bolsa Família é mais distribuído.