Título: A segunda largada
Autor: Dora Kramer
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2006, Nacional, p. A6

Tucanos confirmam Alckmin e fazem nova tentativa de organizar a decolagem

A primeira chance de organizar uma largada firme e forte para o principal candidato de oposição à Presidência da República ficou perdida nas escaramuças internas do PSDB. Em março, Geraldo Alckmin foi posto na cabeceira da pista e lá ficou, sem decolar.

Hoje, em Belo Horizonte, durante a convenção nacional do PSDB, os tucanos vão tentar tirar a má impressão e começar de novo. Contam com a vantagem dos programas de televisão do partido para conquistar alguns pontos nas próximas pesquisas de opinião, mas sofrem a desvantagem do terreno perdido em abril e maio e da atenção nacional voltada para a Copa do Mundo.

Os políticos pretendem fazer da convenção um marco de força e organização, mas os formuladores da estratégia de comunicação da campanha não têm tanta pressa. A julgar pelos planos deles, os aflitos ainda viverão dias de aflição.

Os encarregados da propaganda - por favor, solicitam, nada da denominação "marqueteiro" - estão inteiramente de acordo com a candidato na idéia de que campanha é televisão e, portanto, quem quiser ver Alckmin subir (ou descer de vez) aguarde o horário eleitoral gratuito, a partir de 15 de agosto.

Até lá, teremos mais do visto até agora, o que não é muito, convenhamos.

Na opinião deles, não dá para fazer de outro jeito. O instrumento à disposição, hoje, é só a cobertura normal de imprensa. Noticiário de jornal, estão convencidos os estrategistas, não dá camisa a ninguém porque a televisão é o canal de informação da maioria.

As emissoras, obviamente, não fazem propaganda eleitoral, apenas noticiam os eventos e, nestes, o candidato fica submetido aos critérios das empresas jornalísticas. Essa realidade só se altera quando entra o horário eleitoral.

Outra dificuldade para pôr desde já em execução um plano de comunicação diz respeito ao pagamento dos profissionais. De um lado, ninguém quer se arriscar a receber "por fora" e amanhã ou depois ir sentar numa CPI; de outro, não há ainda recursos definidos pela via legal. Quer dizer, ou os profissionais fecham contrato com base na tradicional heterodoxia financeira, ou se arriscam a trabalhar de graça.

Vencida essa etapa - complicada para todos, oposição e situação -, o trabalho começa. No caso da campanha de Geraldo Alckmin, as linhas mestras estão definidas com o objetivo principal de provocar um segundo turno. O foco do PSDB é fazer o candidato vencer a primeira batalha e torcer para o adversário cantar vantagem dizendo que ganha já no primeiro turno, de modo a fazer da passagem do primeiro para o segundo uma vitória moral.

Contrariamente ao que pensam os parceiros de aliança do PFL, defensores dos ataques agressivos ao presidente Luiz Inácio da Silva, os mar... digo, os estrategistas em comunicação política de Geraldo Alckmin acham contraproducente essa tática. Bater no Lula é malhar em ferro frio, atacar o mito, ou seja, brigar com o invisível, o simbolismo.

Melhor, portanto, Alckmin cuidar da própria vida, mostrando-se mais capaz do ponto de vista administrativo, mais correto sob o aspecto moral. A equipe que pensa a propaganda eleitoral do candidato do PSDB acha que no lugar de "desconstruir" Lula ele deve se preocupar em "construir" um discurso para se mostrar ao eleitorado como uma alternativa concreta como presidente.

A crítica pela crítica, argumentam, soa aos ouvidos do eleitorado como politicagem. Por isso, acreditam que se o eleitor chegar o fim do primeiro turno certo de que existem "dois bons candidatos" na disputa, Alckmin chegará em condições de igualdade na etapa final.

O desafio sutil, apontam, é não deixar que o tema da eleição seja exclusivamente o presidente Lula. Para o bem ou para o mal.

No aguardo

Corre entre o grupo de Anthony Garotinho uma nova versão sobre o anunciado apoio do pemedebista à candidatura Geraldo Alckmin.

O que se diz agora é que a tendência de Garotinho seria de não apoiar ninguém para presidente. A menos, é claro, que o deputado Eduardo Paes retire sua candidatura a governador do Rio de Janeiro e o PSDB passe a apoiar o senador Sérgio Cabral, candidato de Garotinho.

Cabral, em primeiro lugar nas pesquisas, anda tão certo da vitória que já circula em Brasília apresentando seu suplente no Senado, o procurador Régis Fichtner.

Ronaldo x Lula

Em briga de políticos com ídolos populares não é preciso ser arguto para saber quem leva a pior. José Serra, ministro da Saúde, experimentou o veneno ao criticar Xuxa por sua apologia à gravidez - no caso, a própria - independente.

Na época, Serra achou que a apresentadora, mesmo involuntariamente, poderia incentivar a gravidez precoce de adolescentes e apontou que ela não dera bom exemplo.

Levou uma resposta enviesada - ao estilo "envolva-se com a sua vida" - e apressou-se em apresentar desculpas. Mesmo estando certo na essência, percebeu que era briga perdida.