Título: ACM chama Lula de 'doutor da roubalheira'
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2006, Nacional, p. A6

O PFL oficializou ontem, em convenção nacional, a aliança em torno da candidatura presidencial do tucano Geraldo Alckmin, com o senador pefelista José Jorge (PE) no posto de vice, em meio a discursos inflamados contra o governo e críticas pesadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um dos mais contundentes, o senador Antonio Carlos Magalhães (BA) ocupou a tribuna para dizer que o Brasil não agüenta mais a Presidência do "doutor Lula". "É doutor na roubalheira, na incompetência e no cinismo", atacou.

A despeito da escassez de público e da falta de entusiasmo generalizada, por conta da má performance eleitoral do candidato e da falta de entrosamento entre tucanos e pefelistas em grande parte dos Estados, a chapa Alckmin-José Jorge foi aclamada. "Política é obstinação e queremos nos declarar obstinados a impedir que o presidente da República, conivente com os corruptores, fuja ao debate sobre os escândalos e crimes de seu infeliz governo", discursou o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), que presidiu a reunião ao lado de Alckmin e José Jorge.

Os momentos de animação da platéia de militantes pefelistas, com muitos gritos e aplausos, foram reservados ao candidato do PFL ao governo do Distrito Federal, deputado José Roberto Arruda. Ainda assim, a convenção foi do agrado dos tucanos. "Achei tudo ótimo, maravilhoso", resumiu o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE).

Tasso ressaltou que pefelistas e tucanos concretizaram a proeza de uma aliança oficial, o que nem mesmo o PT e o presidente Lula, "com toda a força que tem o governo federal", conseguiram fazer. "Estamos vivendo um momento de glória", afirmou, comentando a dificuldade de construir uma aliança oficial entre dois grandes partidos, diante da legislação eleitoral que limita as coligações nos Estados.

Penúltimo a discursar, José Jorge disse que foi o Nordeste, e não o destino, que o colocou na condição de vice. Depois de se referir a Lula como "nordestino desnaturado", disse que "a praga atual" que aflige sua terra é "a traição de um conterrâneo mal aculturado" que trata o Nordeste como "região habitada por uma gente exótica e folclórica", em vez de resolver seus problemas. Ele acredita que seu papel na eventual administração Alckmin será o de "equilibrar as atenções do governo para que o Nordeste seja prioridade nos planos de desenvolvimento, e não receba esmolas".

Alckmin não acompanhou o tom pesado dos pefelistas nas críticas ao presidente. Preferiu agradecer "a boa companhia de José Jorge" e saudar a parceria com o PFL. "Política é time, é coisa boa, de quem gosta de gente. Temos aqui um grande time e estamos unidos no compromisso com nosso povo", declarou. Mas não se esqueceu de cutucar o adversário. Lembrou ter visto Lula dizer que o Brasil não tem pressa para crescer, para contestar: "Ao contrário, temos muita pressa. Nosso tempo é a velocidade da mudança."

Ao falar em nome dos prefeitos pefelistas, Cesar Maia lembrou que seu partido comanda hoje 800 cidades, que, somadas, representam 26% do eleitorado. E defendeu não só a vitória de Alckmin em outubro, como sua reeleição. "Queremos ir com V. Exa até dezembro de 2014, para que possa desfazer esse desastre que está aí", afirmou o prefeito do Rio, acusando o governo Lula de não ter política social e de praticar o clientelismo e o assistencialismo.

A direção do PFL caprichou na decoração do auditório Petrônio Portella e nos efeitos especiais, mas não usou o velho recurso dos eleitores pagos. "Não admitimos claque paga pelos partidos", afirmou o secretário-executivo do PFL, Saulo Queiroz.