Título: Em uma hora, Quércia muda de idéia e vira candidato
Autor: Carlos Marchi e Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2006, Nacional, p. A7

Ontem, às 16 horas, o ex-governador Orestes Quércia (PMDB) comentava, animado, que teria hoje uma conversa definitiva com o candidato José Serra para fechar a aliança de seu partido com o PSDB em São Paulo; uma hora depois, tinha mudado de idéia e já falava como candidato do PMDB ao governo estadual. "Já mandei fazer faixas para a convenção de sábado e convoquei reunião da equipe de campanha para amanhã. Não tinha nada preparado", afirmou ele no fim do dia.

Anteontem, Serra comunicou ao ex-governador que seu nome tinha sido vetado pelo PSDB para ser vice na chapa tucana. Quércia insistiu: disse que a aliança só seria possível se ele fosse o vice. Os dois ficaram de conversar de novo; ontem, no meio da tarde, Quércia disse que esperaria pelo PSDB até a sexta-feira. Mas uma hora depois, tomado por uma notória euforia, disparou a dar entrevistas dizendo-se candidato e reclamando que o PSDB estava criando "muitas dificuldades".

Mais cedo ele tinha relatado que Serra lhe dissera haver "preocupações" no PSDB com sua indicação para vice. Nos últimos dias, alguns tucanos reagindo à possibilidade de Quércia ser vice de Serra, comentaram que o ex-governador estava pedindo um "atestado de idoneidade" aos antigos adversários, que em 1988 saíram do PMDB, acusando-o de improbidade, para fundar o PSDB.

O TROCO

Quércia visualizou agora a chance de dar o troco e cobrar um preço pessoal para apoiar Serra: aliar-se àqueles que o acusaram com mais vigor na década de 80 daria a impressão de uma tardia absolvição. O eventual apoio do PMDB seria, praticamente, uma pá de cal na eleição paulista, por somar votos à grande vantagem que Serra já tem e por acrescentar muitos minutos ao programa eleitoral do candidato tucano.

Ontem, ao mesmo tempo em que anunciou o fim de uma aliança com o PSDB, Quércia também descartou uma coligação com o PT. Como um pêndulo, ele oscilou todo o tempo entre os dois partidos, até, aparentemente, decidir-se por nenhum deles. Mas, esgotada a aliança com Serra, restou a ele a aliança informal com os petistas, fazendo-se candidato para tentar empurrar a disputa do PT com Serra para o segundo turno.

Serra agora deverá optar por um vice "puro-sangue", escolhido nos quadros do próprio PSDB. O nome mais forte é o de Alberto Goldman, que está no sexto mandato de deputado federal, é vice-presidente nacional do PSDB, foi líder do partido na Câmara e é da confiança do candidato. Modesto, Goldman ontem disse que Serra tem muitas opções para formar uma chapa "puro-sangue" e citou o nome do deputado Arnaldo Madeira, também ex-líder do PSDB na Câmara.