Título: Chávez humilhou Lula, diz 'Economist'
Autor: Gina Marques
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/05/2006, Economia & Negócios, p. B6

Para revista britânica, presidente do Brasil é coadjuvante de venezuelano

O presidente Lula se transformou num coadjuvante irrelevante no cenário sul-americano, superado pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou a revista britânica The Economist, na edição que chegou ontem às bancas.

Em artigo procedente de Brasília, intitulado "A diminuição do Brasil" - cujo título auxiliar dizia que Lula tem sido humilhado por Chávez - , a revista fez um retrospecto da crise iniciada com a nacionalização dos campos de gás e petróleo na Bolívia, e afirmou que o presidente Evo Morales "foi aconselhado e aparentemente inspirado por Chávez", ao tomar essa iniciativa. Segundo The Economist, "a principal vítima dessa decisão foi o Brasil".

De acordo com o artigo, a reação de Lula pareceu frágil. Em vez de fazer valer os direitos contratuais do Brasil, ele se reuniu com o líder boliviano e com o presidente da Argentina para negociar o fornecimento e o preço do gás natural.

Para a revista, o episódio mostrou a confusão que predomina na estratégia da política externa brasileira. O artigo lembrou que Lula provavelmente será candidato à reeleição, e que parte das críticas tem fundo político, mas há algum fundamento: "É o caso dos Estados Unidos. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, insiste em que as boas relações com os EUA são essenciais para o seu país. Mas de acordo com o segundo homem em importância na Chancelaria, Samuel Pinheiro Guimarães, que é o principal teórico ideológico do ministério, o Brasil deve 'reagir às iniciativas políticas da hiperpotência promovendo alianças políticas com os países periféricos'. "

O artigo relatou os problemas que o Mercosul tem enfrentado e mencionou o seguinte comentário de Alfredo Valladão, da universidade francesa Sciences-Po: "O Brasil embarcou no sonho da unidade sul-americana sem reforçar e aprofundar o Mercosul."

De acordo com The Economist, "o projeto de Chávez é muito diferente do brasileiro. Ele arrebanhou Evo Morales para a 'Alternativa Bolivariana', sua aliança política com Cuba. Ele não quer nada com os países que estão assinando acordos comerciais com os EUA. Onde o Brasil quer integrar, a Venezuela quer dividir. Com Chávez, a Venezuela não respeita nem contratos nem as normas democráticas. Mas o Brasil não só silenciou sobre essa conduta, como estimulou a Venezuela a ingressar no Mercosul".

Segundo a revista, "o Brasil não conseguiu articular uma alternativa clara para o 'chavismo'. Há não muito tempo, seus líderes visavam a uma integração regional com base na defesa da democracia e na união do Mercosul ao mundo. Não é difícil concluir que esta visão está sendo sacrificada por um impulso pueril de abraçar a retórica do antiimperialismo. Os brasileiros poderão pagar um preço por isso, em breve".