Título: Brasileiros estão apreensivos
Autor: Paulo Moreira Leite
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/05/2006, Economia & Negócios, p. B5

Embaixador boliviano diz que não haverá medida radical

Os conflitos entre Brasil e Bolívia não se limitam à nacionalização do gás natural. Os deputados Zico Bronzeado (PT-AC) e Nilson Moura (PT-AC) foram ontem à Embaixada da Bolívia em Brasília para manifestar sua apreensão com os rumores de que cerca de seis mil brasileiros que vivem no Departamento de Pando, fronteira com o Acre, seriam expulsos. E mais que o Exército boliviano atuaria na retirada das famílias.

Zico Bronzeado disse que o embaixador Edgar Camacho os tranqüilizou dizendo que o governo de Evo Morales não tomaria nenhuma medida radical de expulsão dos brasileiros. No entanto, deixou claro que a nova política de reforma agrária do País vai obrigar as pessoas irregulares se enquadrarem na nova legislação.

Em La Paz, a Embaixada do Brasil acusou a Bolívia de estar descumprindo o acordo de reciprocidade assinado no ano passado. Pelo acordo, deveriam cessar todas as ameaças de expulsão a imigrantes ilegais em ambos os países. O Brasil alega que está cumprindo o acordo e regularizando a situação dos bolivianos em São Paulo.

Nesta semana, o Instituto Nacional de Reforma Agrária (Inra), equivalente ao Incra no Brasil, expulsou a madereira Caramanu, que fica na região de Cobija, capital do Departamento de Pando. A alegação foi de que a propriedade, por ter como sócio um brasileiro, não poderia ficar na faixa de 50 quilômetros da fronteira. Para as famílias foi dado um prazo de 15 dias para que elas deixassem o país. Na noite de ontem, a notícia que circulava era de que o novo prazo seria de 4 meses.

Segundo Zico, que nasceu no lado boliviano, as famílias estão na região do Pando desde o século 19 e a maioria vive irregularmente. A preocupação é que as famílias cruzem a fronteira para o Acre, que não teria condições de abrigá-las.

Os deputados denunciaram ainda ao embaixador a existência de rumores segundo os quais as autoridades bolivianas estariam cobrando R$ 840 por brasileiro para regularizar sua situação, conforme teriam sido informados por prefeitos da região.