Título: Oposição faz discurso duro e cobra explicações
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/05/2006, Economia & Negócios, p. B4

PSDB e PFL vão convocar assessor internacional de Lula ao Senado

O novo surto acusatório do presidente boliviano Evo Morales levou a oposição a endurecer o discurso contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cobrando-o por não não ter assumido uma atitude de estadista na crise em defesa dos interesses do País. Os principais líderes do PSDB e do PFL se revezaram ontem na tribuna do Senado para reforçar as críticas e cobrar uma explicação de Lula sobre os prejuízos das medidas de nacionalização do gás natural na Bolívia.

"Vamos ter conseqüências catastróficas para a economia do Brasil, além das ofensas feitas pelo presidente boliviano. O Brasil nunca passou por humilhações como essa", afirmou o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE).

Numa ação conjunta com o PFL, o PSDB vai pedir o comparecimento do assessor de assuntos internacionais do Planalto, Marco Aurélio Garcia, na Comissão de Relações Exteriores, com o objetivo de explorar as contradições da política externa e do confronto de posições entre o assessor e o chanceler Celso Amorim na crise com a Bolívia.

Para Jereissati, o presidente Lula está agindo de "de maneira amadora e até irresponsável, mostrando que não está à altura do Brasil". "Ele não tem condições e estatura para defender os interesses nacionais", destacou, em discurso. "O Brasil está há muito tempo a reboque de líderes populistas que estão conduzindo a política na América do Sul de forma completamente irresponsável e com bravatas."

O líder da minoria, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), manteve o tom e ainda fez um apelo a Lula para que assuma pessoalmente as negociações com o governo boliviano e deixe de enviar apenas emissários. "O Brasil não pode ficar omisso diante da gravidade dos fatos", disse.

Enquanto a oposição apontava a dubiedade do governo no episódio e criticava Morales, o único governista a se pronunciar, o senador Siba Machado (PT-AC), considerou a crise parte de 'disputas normais'. Ele ressaltou que as negociações estão a cargo do presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli, e do ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau. Ambos vão prestar depoimento na próxima terça-feira na Comissão de Relações Exteriores do Senado.

Os atritos entre Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia foram explorados pelo senador Heráclito Fortes (PFL-PI). "Lamento que um assessor de terceiro escalão ouse desautorizar o ministro das Relações Exteriores", disse, repetindo palavras do assessor de que a Petrobrás já ganhara dinheiro demais na Bolívia. "Marco Aurélio atrapalha o Itamaraty", completou o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), que reforçou as críticas ao Planalto.

Além de enfatizar as contradições do governo e cobrar Lula, a oposição criticou Evo Morales. "Ele está pondo o Brasil num vexame internacional", observou o líder do PFL, senador José Agripino (RN).

Já a senadora Heloísa Helena (PSOL-AC), alegou que o presidente boliviano estaria cumprindo promessa de campanha. Mas ressaltou que Lula não fez um pronunciamento à Nação sobre a crise. "Ele tem o dever de dizer ao povo o que vai acontecer com os bens e investimentos da Petrobrás na Bolívia e como isso vai refletir na indústria e nos custos dos produtos."

Aliado de Lula, o senador José Sarney (PMDB-AP), disse que Evo assumiu uma posição eleitoreira e, por isso mesmo, acredita que essa crise vai acabar com a eleição para a Constituinte boliviana.