Título: MST pedia dinheiro para não invadir
Autor: Juliano de Souza
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/05/2006, Nacional, p. A12

Polícia prendeu quatro pessoas que chantageavam fazendeiros no RN

Depois de dez dias de investigação, a Superintendência da Polícia Federal no Rio Grande do Norte prendeu anteontem quatro homens - dois deles militantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) -, sob acusação de chantagear os donos da Fazenda Bom Jardim, em Goianinha, a 60 quilômetros de Natal. Eles teriam exigido R$ 5 mil para que a propriedade não fosse invadida pelo MST nem incluída na lista de áreas a serem vistoriadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para desapropriação visando à reforma agrária.

De acordo com os fazendeiros Valdemar Filho, Renato Lima e Frederico Lima, que são donos da Bom Jardim, o grupo disse que o MST quer justamente as terras produtivas da região. Os fazendeiros produzem cana-de-açúcar e derivados, fabricam cerâmicas e criam gado no local. Um quarto da propriedade de 2,5 mil hectares - que pertence a uma família tradicional da região desde 1848 - é reserva de Mata Atlântica.

Euclides Rodrigues, superintendente regional da PF, disse que os acusados já foram ouvidos e acrescentou que a corporação tem realizado ações semelhantes em outros Estados.

ASSESSOR PARLAMENTAR

Foram presos na operação os integrantes do MST Paulo de Souza - presidente da Associação dos Agricultores de Goianinha - e Geórgens Evangelista da Silva, além de Marinaldo Siqueira Bezerra, assessor parlamentar que trabalha na Assembléia Legislativa, e Enock Silveira Cabral, motorista. Os agentes da PF filmaram a ação até o momento da entrega do dinheiro, que ocorreu no final da tarde de ontem. "Eles pediram dinheiro para evitar que a propriedade fosse vistoriada pelo Incra", reiterou Valdemar Filho.

De acordo com a denúncia, os proprietários conseguiram baixar o valor da propina para R$ 3 mil, dinheiro que seria destinado para o MST. Segundo os donos da fazenda, Paulo Souza teria dito que outros produtores da região já ajudaram com o MST dessa mesma forma.

Ao ser preso, porém, o líder sem-terra tentou desqualificar a acusação dos fazendeiros, dizendo que "as pessoas distorcem as coisas". Com Evangelista, que não tem porte de arma, a Polícia Federal encontrou um revólver calibre 38.