Título: Garotinho encerra greve de fome depois de 11 dias
Autor: Alexandre Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/05/2006, Nacional, p. A8

Pré-candidato do PMDB à Presidência consegue na Justiça direito de resposta no Globo e na Veja

O ex-governador do Rio Anthony Garotinho anunciou ontem o fim de sua greve de fome, após 11 dias sem comer. Ele comemorou a obtenção de duas liminares do Tribunal de Justiça (TJ) do Rio, que determinaram à revista Veja e ao jornal O Globo a publicação de direito de resposta. Garotinho quer se defender de reportagem que dizia que ele tinha usado duas vezes o avião de João Arcanjo Ribeiro, preso como chefe do crime organizado em Mato Grosso.

As duas decisões, tomadas no fim da noite de anteontem, não tratam das denúncias de que empresas financiadoras da sua pré-campanha têm dirigentes em comum com ONGs que mantêm contratos com o Estado do Rio. A estratégia é contestar separadamente os casos. Ele ingressaria ainda ontem com pedidos de reparação de danos pelas outras denúncias e contra a TV Globo.

O caso do avião foi publicado na Veja, que dedicou ao pré-candidato a capa da edição de 30 de abril - na qual ele aparece numa montagem com chifres - e que foi reproduzida pelo jornal na primeira página daquele dia. Mesmo sem a garantia de que a ordem será cumprida (cabe recurso), Garotinho convocou entrevista para encerrar o jejum.

Segundo a assessoria do TJ, a juíza Fernanda Telles, da 18ª Vara Cível, entendeu que há documentos no processo que comprovam que o avião estava arrendado por uma empresa que não tinha relações com Arcanjo. A juíza justificou a antecipação de tutela antes do julgamento do caso relativo ao Globo considerando a importância da reputação para um pré-candidato à Presidência. Ela deu ao jornal prazo de 24 horas para o cumprimento, sob pena de multa diária de R$ 35 mil.

Com relação à Veja, o juiz Carlos Eduardo Moreira da Silva, da 31ª Vara Cível, concedeu o mesmo benefício a Garotinho.Determinou que a revista publique a resposta do ex-governador no mesmo destaque e espaço, com chamada de capa, título e subtítulo e o mesmo tamanho de texto. O juiz ressaltou que é contrário à censura aos meios de comunicação, mas frisou que as notícias não podem "deixar margem para interpretação duvidosa". Se não cumprir imediatamente a determinação, a revista poderá pagar por dia R$ 50 mil de multa.

Apesar de não conseguir os observadores internacionais, outra de suas reivindicações, Garotinho disse que ficou satisfeito com o resultado da visita de deputados aliados à Fundação Jimmy Carter, nos Estados Unidos, que, segundo ele, se comprometeu a fazer relatório sobre a influência da mídia no ambiente eleitoral brasileiro.

Sobre o financiamento de sua pré-campanha, afirmou que provará na Justiça que não usou verba pública, argumentando que não há impedimento legal para que as empresas ligadas à ONGs façam doações. "Seria um impedimento moral. Por isso, ao tomar conhecimento, mandei devolver o dinheiro."

CONVENÇÃO

Garotinho reafirmou que pretende ir à convenção do PMDB no sábado confiante de que vencerá a tese da candidatura própria. "Mesmo com o apoio que governistas recebem do governo Lula, com ministérios, cargos e outras coisas, eles precisarão de dois terços dos votos para impedir a candidatura." Sobre suas chances, que diminuíram com a greve de fome, disse que ainda não pensou em seu futuro político.

Na prática, a greve de fome já tinha sido interrompida anteontem, quando ele se transferiu da sede do PMDB no Rio para o hospital Quinta D'Or. Garotinho passou a receber soro com sais minerais e glicose na veia e admitiu ter bebido meio copo de água de coco. Segundo Abdu Neme, seu médico, ele perdeu 7 quilos e levará 15 dias para retomar a dieta normal. Até lá, vai ingerir líquidos. O pré-candidato hesitou em responder o que gostaria de comer após o jejum. "Quero comer marmelada, que foi o que fizeram comigo." Mais cedo, porém, tinha admitido que queria comer quibe cru, uma referência à sua origem libanesa.