Título: Câmara tenta enquadrar PF para barrar investigação de deputados
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/05/2006, Nacional, p. A4

Casa vai devolver à polícia lista com 81 parlamentares suspeitos de desviar recursos do orçamento

Ao invés de se empenhar para esclarecer as suspeitas levantadas contra os deputados supostamente envolvidos no esquema de compra superfaturada de ambulâncias com recursos do Orçamento da União, a Câmara reagiu à Operação Sanguessuga com ataques aos responsáveis pelas investigações. Depois de limitar a apuração interna a 16 dos 62 parlamentares citados pela Polícia Federal , líderes partidários não querem mais aceitar as listas de suspeitos por ela preparadas. Mais que isso: agora cobram explicações da PF, do Ministério Público e da Justiça.

Os governistas se reuniram ontem com seu líder, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), e decidiram pedir ao presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), que devolva a segunda lista encaminhada pela PF na noite de quarta-feira com o nome de 81 parlamentares e só a receba novamente quando as investigações estiverem concluídas.

"O Ministério Público e a Polícia Federal têm o dever de concluir o trabalho de investigação antes de mandar para cá", afirmou Chinaglia, no fim da reunião com líderes do PTB, do PL, do PSB, do PMDB e do PT.

Os deputados argumentam que as listas não são totalmente consistentes e estão provocando desgaste para toda a Casa. "Se uma funcionária lembrou e, com a delação premiada, está fazendo acusações a granel, isso é rigorosamente insuficiente", afirmou Chinaglia, referindo-se a Maria da Penha Lino, ex-assessora do Ministério da Saúde presa em Cuiabá.

De manhã, em discurso aplaudido no plenário, Chinaglia sugeriu que os representantes das três instituições envolvidas nas investigações sejam chamados à Câmara para explicar o vazamento dos nomes para a imprensa e identificar os deputados sob investigação.

Chinaglia propôs também que Aldo faça um pronunciamento no rádio e na TV para explicar à sociedade o escândalo. "A Câmara tem de dar uma resposta à altura", defendeu o líder do governo. "Se tiver culpa, tem de ser punido. Mas uma lista misturando os que devem e os que não devem compromete a imagem da Câmara e da democracia." Para ele, é uma irresponsabilidade a divulgação da lista. "Não pode ficar todo mundo no mesmo nível."

O corregedor, deputado Ciro Nogueira (PP-PI), também endureceu o discurso. Acusou a PF de ter agido de maneira ilegal e chamou de irresponsável o juiz de Mato Grosso que trata do processo. Nogueira disse que a Polícia Federal, independentemente de autorização do Supremo Tribunal Federal, está investigando os parlamentares, o que contraria a lei. Afirmou também que o juiz não teve a responsabilidade de pedir à PF que separasse os deputados contra os quais há indícios de envolvimento dos que apenas foram citados por terem apresentado emendas ao Orçamento. "O juiz foi irresponsável nesse caso", afirmou.

A comissão de sindicância, presidida pelo corregedor, decidiu ontem convidar para depor o delegado da PF responsável pela Operação Sanguessuga, Tardelli Boaventura, e o procurador que acompanha o caso, Paulo Gomes Ferreira Filho. Além dos dois, serão convidados empresários e pessoas ligadas à Planam, empresa que vendia as ambulâncias, e Maria da Penha. Depois desses depoimentos, a comissão pretende ouvir os 16 deputados acusados.

Na linha de reação institucional, o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), propôs uma reunião do presidente da Câmara com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. Para o líder pefelista, o vazamento de listas misturando supostos envolvidos com outros contra os quais não há indícios é uma estratégia para beneficiar os culpados.