Título: Furlan propõe alterar impostos
Autor: Thiago Velloso
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2006, Economia & Negócios, p. B12

Idéia do ministro é transferir para o combustível os tributos sobre as vendas de veículos

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, propôs ontem a transferência de impostos sobre a venda de automóveis para o combustível consumido ao longo da vida útil do veículo. A idéia - que, segundo ele, é ainda apenas uma hipótese - seria uma das alternativas para o mercado interno, compensando as empresas pelas perdas de competitividade nas exportações.

"O consumidor paga um imposto elevado quando adquire um veículo. Se parte desse imposto puder ser transferida ao longo da vida útil do veículo, ele vai pagar o mesmo imposto em etapas diferentes", observou.

Furlan insistiu que a medida não representaria acréscimo de impostos, mas uma mudança na forma pela qual o consumidor paga o mesmo tributo. "Se essa tributação pudesse ser distribuída ao longo do tempo, certamente teríamos um aumento de demanda."

"É uma hipótese. Há uma mobilização. Esse tema está se transformando em emergência, que é a possibilidade de perda de empregos no Brasil, referindo-se à Volkswagen, que pode demitir cerca 6 mil funcionários. Essa possibilidade cria uma oportunidade para que se possa analisar soluções."

A proposta foi feita após encontro com o presidente da Volks, Hans Christian Maergner, na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), onde assistiu a uma apresentação detalhada da situação da indústria automobilística e das dificuldades da empresa no mercado nacional.

Furlan informou que o governo federal estuda medidas para ajudar as montadoras a enfrentar dificuldades provocadas pela competitividade das exportações. Mas, segundo ele, a idéia não é buscar soluções específicas para a Volkswagen. "Estamos tentando buscar soluções para o setor, não apenas para um caso específico."

Segundo ele, outras empresas estão em situação difícil, mas nenhuma é "tão dramática" quanto a da Volks. "Várias empresas sinalizaram, a partir do início de 2005, com a possibilidade de redução das exportações por força, principalmente, da valorização cambial."

Por enquanto, de acordo com Furlan, estão sendo aplicadas, por exemplo, medidas de crédito, como a redução de spreads e a aprovação, pelo BNDES, de uma linha de financiamento de R$ 500 milhões.

"A queda de juros pode estimular a um menor custo o financiamento dos automóveis e, ao mesmo tempo, uma mudança do mix de venda, porque os carros mais populares são os que dão menor rentabilidade às montadoras." Furlan lembrou, ainda, que o Brasil está próximo de chegar a uma taxa de juros real de um dígito.

Ele contou também que uma das observações de Maergner foi sobre o alto custo logístico, que poderia ser reduzido com o alargamento do mercado interno. "Nós estamos no começo do ano com crescimento das vendas no mercado interno."