Título: Agora, ninguém quer trocar o combustível
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2006, Economia & Negócios, p. B10

Empresa de conversão recebia 40 telefonemas por dia; ontem foram 4

A agenda de Gilberto Camilo, proprietário da empresa de conversão Carbugás, na Zona Norte de São Paulo, é um reflexo da desconfiança dos consumidores sobre o preço do Gás Natural Veicular (GNV). Há duas semanas, ele recebia, por dia, cerca de 40 telefonemas de clientes interessados em converter o combustível do carro. Desse total, ele fechava uma média de 5 instalações para cada dia da semana. Ontem, Camilo recebeu quatro ligações. Todas para fazer orçamento. A agenda, que ficava praticamente lotada com duas semanas de antecedência, agora está vazia e borrada, por conta dos cancelamentos.

O empresário calcula uma perda de 80% no faturamento. No dia 20 de abril, estava com agenda lotada para as duas semanas seguintes. Agora, tem só um carro marcado para segunda-feira. Nesse ritmo, o estoque da empresa vai durar mais do que o esperado. ¿Isso é prejuízo. Os 86 cilindros estocados equivalem a R$ 115 mil.¿ Apesar da crise, Camilo acredita que os consumidores voltarão a investir no gás nos próximos meses.

Já o dono de uma rede de oficinas de conversão Walter Avila prefere não ver tempos difíceis para o setor. Para Avila, entre junho e setembro a conversão vai diminuir, como ocorre todos os anos, por conta da concorrência com o álcool e não por causa da Bolívia. Um de seus sócios, porém, percebeu uma queda de 60% na última semana. Eduardo Rocha, proprietário de uma oficina da rede de Avila, diz ter deixado de ganhar R$ 50 mil desde 1.º de maio. ¿Ontem dispensei um caminhão com 100 cilindros, porque sei que não vai vender¿.

O engenheiro Vanderlei Torres converteu seu carro há duas semanas e está preocupado. ¿Se a situação piorar, volto para a gasolina, mas perco o que investi na instalação¿. Ele percorre 120 quilômetros por dia e já reduziu os gastos em R$ 200.

¿Até o consumidor estar seguro de que o aumento do preço será irrisório, vamos amargar alguns meses¿, disse Gilberto Camilo. O empresário, que é conselheiro da Associação Brasileira de Gás Natural Veicular, diz que os postos trabalham com uma margem de lucro suficiente para segurar a alta dos preços. A Comgás compra o metro cúbico por R$ 0,50 e vende para os postos a R$ 0,56. O consumidor paga R$ 1,19 pelo metro cúbico.