Título: Irã responderá a oferta de benefícios, mas só em 2 meses
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2006, Internacional, p. A19

O presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, anunciou ontem que seu país responderá no dia 22 de agosto aos benefícios propostos por seis potências mundiais para que o país suspenda seu programa de enriquecimento de urânio. Isso significa uma demora de mais de dois meses em relação à data da oferta das potências. Ahmadinejad repetiu a posição oficial do Irã de não renunciar a seu direito de enriquecer urânio - etapa do ciclo nuclear que tanto pode levar ao uso pacífico como à produção de armas. O governo iraniano insiste que não busca o uso militar da tecnologia.

"Parece um tempo terrivelmente longo", queixou-se o presidente americano, George W. Bush, durante entrevista à imprensa em Viena, onde participa da cúpula EUA-União Européia. "Não deveria levar tanto tempo para os iranianos analisarem um acordo razoável", disse Bush.

O comentário de Bush provocou imediata reação do chanceler do Irã, Manouchehr Mottaki: "O presidente Bush não pode e não deveria estar com pressa. Quando Javier Solana (o chefe da Política Externa da União Européia) nos trouxe as propostas, no dia 6, não foi fixado nenhum prazo-limite", argumentou Mottaki,

Mas a data de 22 de agosto também não agradou a russos e chineses, que mantêm boas relações comerciais com o Irã e se mostram reticentes quanto a pressionar com ameaça de sanções econômicas ou outras medidas punitivas no âmbito do Conselho de Segurança da ONU. "Do jeito que as coisas estão agora, o Irã precisa adotar ações autênticas para ganhar a confiança da comunidade internacional", declarou o primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, fazendo um chamado a Teerã para que atenda às exigências.

Na cúpula EUA-União Européia, os representantes das principais potências ressaltaram que esperam uma resposta em um prazo de semanas, e não meses. O porta-voz do Departamento de Estado americano, Adam Ereli, disse que uma videoconferência com representantes de Alemanha, França, China, EUA, Grã-Bretanha e Rússia foi realizada depois que Ahmadinejad fez o anúncio. Segundo Ereli, os seis países "reiteraram a posição comum de esperar uma resposta em um prazo de semanas, não meses".

O pacote de benefícios foi apresentado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (Rússia, China, Grã-Bretanha, França e EUA) e também pela Alemanha. Diplomatas disseram que os incentivos incluem significativas concessões por parte dos EUA, como a transferência de tecnologia nuclear para uso pacífico, levantamento de algumas sanções na área comercial e apoio à entrada do Irã na Organização Mundial do Comércio.

Uma das concessões mais importante seria a aceitação de que o Irã enriqueça urânio em pequena quantidade, adequada apenas ao uso em usinas de energia elétrica, como o país alega ser sua meta.

No comunicado final da cúpula se especifica que, se o Irã decidir rejeitar a oferta e mantiver seus planos, "serão adotados novos passos no Conselho de Segurança da ONU". Os membros do Conselho temem que o Irã tenha como finalidade construir armas atômicas, já que manteve por mais de 18 anos instalações nucleares secretas.

Ahmadinejad tem reiterado que o Irã tem direito de dominar o ciclo nuclear. Mas, ao mesmo tempo, as autoridades iranianas não chegaram a rejeitar a possibilidade de suspensão temporária do enriquecimento do urânio e disseram ter visto aspectos positivos na oferta das seis potências ocidentais.