Título: Em um dia, 180 vôos não decolam
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

No primeiro dia de vigência do plano para atender emergencialmente os passageiros da Varig, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou ontem que existiam 6 mil passageiros com reservas de ida e volta para o exterior entre os dias 21 (ontem) e 23 (amanhã). Desse total, 4 mil voltam ou têm como destino países europeus, sendo 1,6 mil da Alemanha, onde ocorrem os jogos da Copa do Mundo.

Já a Infraero, estatal responsável pela administração dos aeroportos brasileiros, informou que, de zero hora de ontem até as 18 horas, a Varig cancelou 180 vôos de um total de 356 que estavam programados para esse período.

Porcentualmente, os cancelamentos de vôos internacionais foram maiores, pois atingiram 65% do que estava previsto. Do universo de 40 vôos ao exterior que deveriam ter sido realizados até o fim da tarde, apenas 26 partiram. No cenário doméstico, a proporção era de 47% de cancelamentos, já que, dos 316 programados, 154 não foram realizados.

No início da noite, a Anac divulgou nota informando que esperava o cancelamento de mais 83 vôos nacionais e 39 internacionais da empresa até a meia- noite.

Técnicos da Anac trabalham na sede da Varig desde o início da noite de terça-feira, quando o diretor-geral da agência anunciou o plano de emergência. Os técnicos passaram a ter acesso aos dados sobre reservas, emissão de bilhetes e vendas de passagens aéreas, além dos destinos, nessas 72 horas que a Varig ficou impedida de movimentar aviões por decisão de juízes dos Estados Unidos. A agência, no entanto, não soube informar até o início da noite o número exato dos passageiros que deveriam embarcar para o exterior e daqueles que deveriam voltar ao País.

APREENSÃO No Palácio do Planalto, o clima é de apreensão entre os assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o agravamento da crise financeira da empresa aérea. A estimativa do governo federal é de que pelo menos 20 mil passageiros têm bilhetes aéreos da Varig no exterior e deveriam embarcar até 16 de julho. No período mais amplo de 30 a 40 dias, o cálculo é que chegue a 50 mil o números de pessoas no exterior que dependam da Varig para viajar.

A apreensão maior no governo é que, com o desdobramento do episódio Varig, haja uma crise de credibilidade do setor aéreo entre a população e outras repercussões negativas que podem surgir para a imagem do País.

Essas questões incentivaram a montagem do gabinete de crise no Ministério da Defesa, com a presença de representantes de vários órgãos do governo, inclusive do Itamaraty.