Título: Nos aeroportos, orações e muita paciência
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

A dona de casa Célia Dantas acredita em milagre. Mãe e sogra de três comissários de bordo da Varig, ela acordou cedo ontem e pegou dois ônibus para ir de sua casa, no bairro da Taquara (zona oeste do Rio), até o Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador (zona norte).

Com uma bíblia na mão e a bandeira do Brasil na outra, ela se ajoelhou e rezou diante do balcão da Varig no aeroporto. "Só Deus salva a Varig. Orei, chorei e creio na vitória." E foi também de uma maneira simplória que explicou sua decisão de ir ao aeroporto, sem o conhecimento das filhas. "Tive um sonho que me mandou a seguinte mensagem: vai lá (no aeroporto) e reza."

Apesar da pouca movimentação nos balcões da Varig, passageiros da companhia aérea tiveram dificuldades de embarcar ontem no Aeroporto Internacional Tom Jobim. A dona de casa Rosana Berlensky, de 33 anos, se antecipou ao problema. Ao saber que seu vôo para Miami, às 22 horas, fora cancelado, ela chegou ao aeroporto de manhã para ser encaixada num vôo da American Airlines.

"Farei check-in às 16 horas, mas só vou acreditar que consegui viajar para Miami quando entrar no avião", comentou.

O casal italiano Glória de Mulher e David Zampirollo, em lua de mel no Brasil, tiveram a mala extraviada quando fizeram conexão num vôo da Varig de Frankfurt, na Alemanha, para o Rio. O casal não conseguiu, como planejava, vôo na mesma companhia aérea para Vitória, no Espírito Santo.

Pela manhã, de acordo com a Infraero, a Varig cancelou 27 vôos no Aeroporto Internacional do Rio, metade das partidas previstas. Ainda foram cancelados seis vôos de ponte aérea no Aeroporto Santos Dumont.

Em São Paulo, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, poucas foram as pessoas que conseguiram voar pela Varig sem se incomodar com atrasos e cancelamentos. Atletas que no sábado vão representar o Brasil na Copa do Mundo de Esgrima, em Bogotá, passaram mais de 12 horas no aeroporto tentando embarcar. Jorge Tuffi, Ivan Schwantes e Atos Schwantes chegaram em Guarulhos às 8h50.

O vôo para Bogotá sairia antes das 13 horas, mas foi cancelado. Eles foram encaminhados para um vôo da Companhia Aero México que os levaria até a cidade do México e de lá eles sairiam ainda hoje para Bogotá. Ao chegarem ao balcão da companhia internacional, receberam a notícia de que o vôo não seria endossado. "Isso é complicado e prejudica a competição, porque precisamos treinar dois dias antes para reconhecer o lugar" disse Ivan. O detalhe: a Varig patrocina o comitê olímpico de esgrima.

A Família Spyer Prates também teve problemas . Dona Ane Liese foi comemorar o aniversário de 90 anos na Alemanha. Levou a tiracolo os 6 filhos, noras, genros e netos, um grupo de 25 pessoas. Quando chegaram ontem ao Brasil, tiveram uma surpresa. O vôo de 17h45 para Belo Horizonte, havia sido cancelado. No fim da tarde, os 25 ficaram sabendo que só embarcariam às 22 horas para Minas Gerais.

Ainda em São Paulo, no Aeroporto de Congonhas, até o fim da tarde de ontem haviam sido cancelados 6 vôos - 3 da ponte áerea Rio-São Paulo, 2 para Curitiba e 1 para Porto Alegre. O motivo dos cancelamentos foi a falta de aviões.

O consultor da área têxtil Celso Pagoto embarcaria em um vôo para Fortaleza que sairia de Guarulhos ontem. O vôo foi cancelado e ele foi avisado de que deveria ir até Congonhas. Ao chegar lá, ficou sabendo que não haveria mais vôos para Fortaleza saindo do aeroporto. Desolado, esperava uma solução. "Provavelmente, só embarcarei amanhã (hoje)."