Título: TGV admite que não tem dinheiro
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

Diante de uma platéia de cerca de 200 empregados da Varig, o coordenador dos Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), Márcio Marsillac, admitiu ontem a possibilidade de não ter como depositar, até amanhã, o sinal de US$ 75 milhões para validar a oferta de US$ 449 milhões pela companhia.

"Ninguém tem 100% de segurança de que esses recursos estarão à disposição, de que serão apresentados por esses investidores até sexta-feira", disse Marsillac, garantindo ter três memorandos de entendimentos com investidores.

Durante manifestação em frente à sede da Varig, Marsillac criticou a atuação do governo no caso e garantiu que os trabalhadores vão lutar para mantê-la. Mas o tom do TGV já mudou e ele frisou que, caso "o pior aconteça", vai apresentar a conta ao Palácio do Planalto. "Não vamos ser só nós a morrer aqui, não. Esse governo será responsabilizado pelo descaso frente a essa situação", disse.

O presidente da Associação de Pilotos da Varig (Apvar), Rodrigo Marocco, afirmou que a demora da Justiça em homologar a proposta da Nova Varig (NV) Participações, empresa criada pelo TGV para investir na Varig, afugentou investidores. A isso ele acrescentou a precariedade das condições operacionais da Varig, que tinha, na época da oferta, 46 aviões voando e agora teria só 19.

"Se é para morrer, vamos morrer de pé, gritando", disse Marocco aos integrantes do TGV que participavam da manifestação. Segundo ele, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também tem dificultado a obtenção de recursos.

Nos bastidores da Justiça do Rio, já havia relatos de que o TGV não contava com investidores e, portanto, não conseguiria o dinheiro para fazer o depósito exigido pelo edital do leilão da Varig.

A homologação da oferta, feita 11 dias após a concorrência, ocorreu depois de dois pedidos do juiz Luiz Roberto Ayoub, responsável pela recuperação judicial da companhia, de maiores esclarecimentos. Segundo fontes, a Justiça homologou a proposta para "encostar na parede" os empregados e evitar eventuais recursos judiciais caso a oferta fosse recusada.

Durante a manifestação organizada pelo TGV, Igor Pereira Sieburger, de 10 anos, acompanhava o pai, César Sieburger, comissário da Varig há 20 anos. Ele disse estar triste com a situação da empresa e explicou o porquê. "A Varig está falindo e o governo não está pagando o que deve à empresa", disse.