Título: Crise já afeta investimentos no País
Autor: Fabio Graner e Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2006, Economia & Negócios, p. B6

A turbulência que afeta os mercados financeiros internacionais já está causando danos às contas externas brasileiras. Dados divulgados pelo Banco Central (BC) mostram que neste mês de junho a entrada de investimentos estrangeiros diretos (IED) está fraca: somente US$ 300 milhões até ontem. Até o fim do mês, segundo projeção do chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, chegará a US$ 500 milhões. Para ter uma idéia do tamanho do tombo neste mês, em maio os IEDs somaram US$ 1,58 bilhão e nos cinco primeiros meses do ano, US$ 6,32 bilhões - média mensal de US$ 1,26 bilhão.

"No início de junho houve uma maior volatilidade, que se refletiu em um movimento natural de parada dos agentes econômicos. Mas já há alguma melhora nos últimos dias. A expectativa é de que em algum momento de julho o fluxo volte ao normal", afirmou Lopes. Confiante nessa avaliação, o chefe do Depec manteve inalterada em US$ 18 bilhões a projeção para os investimentos em 2006.

Além do impacto no investimento produtivo que vem para o País, as incertezas externas também fizeram despencar a renovação de empréstimos no exterior que venceram em junho. A taxa de rolagem total dos financiamentos de médio e longo prazos até ontem estava em 24%, mais de 12 vezes inferior ao desempenho acumulado de janeiro a maio, de 296%. Somente no mês passado, esse indicador ficou em 172%.

Outro indicador afetado pela turbulência externa foi o de remessas de lucros e dividendos. Em junho, até ontem, essa conta registrava saídas de US$ 427 milhões. O valor está muito abaixo da média de US$ 1,44 bilhão por mês até agora neste ano (US$ 7,22 bilhões de janeiro a maio). Mas, nesse caso, a volatilidade atuou por meio da desvalorização do real, que torna menos atraentes as remessas.

Isso ocorre porque, com o real depreciado, o empresário troca os reais por menos dólares na hora de enviar seus lucros ao exterior, ou seja, a operação é menos atraente e a tendência é que seja adiada.

Mesmo com o resultado fraco que se desenha em junho, o desempenho do ano levou o BC a elevar de US$ 13 bilhões para US$ 14,7 bilhões a projeção das remessas de lucros em 2006.

Embora a volatilidade esteja no mercado desde maio, segundo Lopes ela não teve impacto nas remessas naquele mês. Ao contrário, em maio essa conta teve o maior volume de saídas do ano: US$ 2,003 bilhões. Por causa disso, a conta de transações correntes do balanço de pagamentos (que registra as operações de comércio e serviços do Brasil com o exterior) teve saldo de US$ 475 milhões em maio, bem abaixo das estimativas. Em maio de 2005, o superávit em conta corrente havia sido de US$ 597 milhões.

No acumulado do ano, a conta do balanço de pagamentos apresenta saldo de US$ 2,506 bilhões, ante US$ 3,973 bilhões de janeiro a maio de 2005. No acumulado dos últimos 12 meses terminados em maio, o superávit na conta corrente foi de US$ 12,725 bilhões, o correspondente a 1,51% do Produto Interno Bruto (PIB) do período. O BC revisou para baixo a projeção para o saldo de transações correntes no ano, de US$ 8,5 bilhões (0,94% do PIB) para US$ 8,1 bilhões (0,89% do PIB).