Título: Lula critica antecessores por decadência de maria-fumaça
Autor: Leonencio Nossa, Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2006, Nacional, p. A11

Ao reinaugurar estrada de ferro em Minas, em discurso de improviso, presidente também condena historiadores

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem "todos" os antecessores por terem transformado em ferro-velho o trem puxado por uma locomotiva maria-fumaça que foi reformado e voltou a percorrer um trecho entre as cidades históricas de Mariana e Ouro Preto. Depois de reinaugurar a estrada de ferro, ele atacou em discurso até os historiadores brasileiros por tratarem como traidores os participantes da Inconfidência Mineira, movimento ocorrido em 1789. "Inconfidentes para quem, cara pálida? Eles eram na verdade revolucionários que lutaram pela independência do Brasil, para que a riqueza produzida na região ficasse aqui", afirmou.

Desde o início da República, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, e outros inconfidentes passaram a ser vistos como heróis pela historiografia oficial. Ainda no Império, o movimento da Inconfidência Mineira já era considerado um capítulo importante do processo de independência. Há pelo menos 50 anos, historiadores consideram que os inconfidentes representavam os interesses da elite mineira na luta contra Portugal.

"Para quem Tiradentes era inconfidente? Para a Coroa portuguesa. Eu acho que, quem sabe, isso seja um bom tema para que os nossos historiadores comecem a discutir", disse. "Ele foi morto, esquartejado e salgada sua carne."

Na fala de improviso, que durou cerca de dez minutos, Lula chegou a abordar as aventuras amorosas do D. Pedro I. O presidente citou o caso extraconjugal do imperador com a Marquesa de Santos. Cerca de 2 mil pessoas assistiram ao discurso, em frente à estação ferroviária de Ouro Preto.

PURURUCA

O presidente, conhecido por freqüentes pronunciamentos improvisados e longos, negou que goste de discursar. "A parte pior dos atos que a gente faz é o discurso", afirmou. Depois, explicou que preferia participar, após fazer a viagem na maria-fumaça, de uma festa, com feijão-tropeiro e pururuca. "Eu não vou nem dizer uma coisa de Havana, de Salinas (marcas de cachaça mineiras), porque senão vão dizer que estou induzindo os ministros a tomarem uma caninha."

Lula voltou a criticar "uma parte da elite" por valorizar viagens de turismo à Europa. Ele disse que é "baixar o nível" criticar projetos de incentivo turístico como a maria-fumaça de Ouro Preto. Ainda em Mariana, antes de entrar na locomotiva, o presidente sorriu ao ser indagado se iria embarcar no trem da "reeleição". Ele evitou a comentar o assunto.

Se depender do presidente da Eletrobrás, Aloízio Vasconcelos, não vai faltar festa de inauguração para Lula fazer campanha. Vasconcelos disse que iria entregar ao presidente uma lista de cinco eventos até junho, quando deverá anunciar a candidatura. É o caso da entrega da última turbina de Itaipu ou do último rotor de Tucuruí.