Título: PF vigia fronteiras para prender 7 acusados
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2006, Nacional, p. A7

Depoimentos têm levado a novos suspeitos, diz a polícia

A Polícia Federal vai vigiar a partir de hoje as fronteiras e os aeroportos, na tentativa de impedir a fuga, para o exterior, das sete pessoas que ainda não foram detidas e que estão com a prisão provisória decretada por envolvimento com a fraude milionária na compra de ambulâncias e equipamentos hospitalares com dinheiro do orçamento da União. Desde as primeiras horas de anteontem, já foram presas 47.

"Espero que elas se entreguem, porque a partir de amanhã (hoje), serão consideradas foragidas e pediremos a prisão preventiva, o que é bem mais complicado para o envolvido", disse o delegado Tardelli Boaventura, da Polícia Federal de Cuiabá, que preside os 140 inquéritos abertos na Operação Sanguessuga.

O delegado informou ainda que todos os presos serão levados para Cuiabá. E novas prisões poderão ser pedidas, porque as pessoas presas estão revelando detalhes novos nos depoimentos feitos até agora. Além do mais, a PF está oferecendo, aos que quiserem, o benefício da delação premiada - o benefício de ter sua punição atenuada, após colaboração com a investigação, a critério da Justiça. "Quem quiser, pode passar para o programa de proteção de testemunhas", afirmou Boaventura.

Ontem à tarde, entregou-se à PF, em Brasília, Suelene Almeida Bezerra, assessora do deputado Reginaldo Germano (PP-BA), especializada nos procedimentos envolvidos na aprovação e execução do orçamento.

Tardeli Boaventura contou que há uma semana recebeu determinação do juiz Jefferson Schneider, da 2ª Vara da Justiça Federal de Mato Grosso, para que separasse todo o material das investigações onde fossem citados parlamentares. "Eu usei a palavra-chave deputado e então fiz a separação. Tudo o que havia lá foi retirado, para ser enviado às Mesas Diretoras da Câmara e do Senado, ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à Procuradoria-Geral da República". Ao todo, os diálogos que se referem, direta ou indiretamente, a algum parlamentar foram resumidos em 200 páginas.

Por causa da suspeita que pesa sobre os parlamentares, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, terá de decidir em breve se pede ou não a abertura de um inquérito no STF para apurar o suposto envolvimento de congressistas em fraudes para compra de ambulâncias e material médico hospitalar. Há também a suspeita de que a quadrilha estaria agora negociando equipamentos para o programa de Inclusão Digital, do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Nas gravações de conversas realizadas durante as investigações feitas pela PF, foram citados os nomes de dezenas de parlamentares. No entanto, o fato de terem sido citados não significa que eles tenham participado do esquema de irregularidades. Caberá ao procurador-geral pedir ao STF que determine a realização de diligências para aprofundar as investigações em relação aos congressistas.

A apuração feita até agora indica que havia um superfaturamento de cerca de 110% nos bens envolvidos . Só com a compra de ambulâncias podem ter sido desviados de R$ 50 milhões a R$ 60 milhões. Em Mato Grosso, foram aprovadas cerca de 70 emendas parlamentares, com valor de R$ 3 milhões.

Normalmente, as licitações eram fracionadas em duas de R$ 80 mil, que equivalem ao valor de cada ambulância. Com o superfaturamento, elas saíam por R$ 110 mil, em média.

Nas investigações, foram quebrados sigilos bancários e fiscais de mais 50 pessoas físicas e jurídicas. Nas quebras, foram identificados pagamentos de empresas para contas de assessores de congressistas.

Também foi realizada uma comparação entre as declarações fiscais e o recolhimento da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).