Título: Parlamentares negam ligação com escândalo
Autor: Sônia Filgueiras
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2006, Nacional, p. A4

Citados por pessoas ouvidas pela PF, deputados fazem histórico de suas emendas para mostrar inocência

Deputados citados pela Polícia Federal nas investigações da chamada Operação Sanguessuga, que apura desvio de dinheiro público na compra superfaturada de ambulâncias para diversos municípios, negaram qualquer envolvimento com o caso. Eles foram citados em diálogos de pessoas investigadas e apontadas pela PF como sendo participantes do esquema de fraude. De acordo com a PF, empresários acusados pela fraude utilizavam recursos federais incluídos por parlamentares no Orçamento da União.

"Não conheço, não sei quem são essas pessoas, nunca estive com eles e quero que tudo seja investigado. Não tenho nada a esconder", afirmou o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ). Ele disse que 30% das emendas individuais são direcionadas obrigatoriamente para a área de Saúde. Fez um levantamento e constatou que uma emenda feita em 2003 para o município de Macuco, onde não tem base eleitoral, foi executada em 2004. Maia afirmou também que outra emenda feita em 2005 foi recentemente liberada, mas não houve tempo ainda para a realização de licitação. "Se eles (empresários) estavam tentando se beneficiar usando irregularmente minhas emendas, não conseguiram", continuou Maia.

O líder do PFL considerou estranho o fato de a Polícia Federal encaminhar uma lista com nomes de pessoas envolvidas com outras que não têm nenhuma relação com o caso. "A Polícia Federal deve ter mais cuidado e respeito com as pessoas", afirmou Maia. "Querem prejudicar quadros da oposição", completou.

O deputado Eduardo Gomes (PSDB-TO), terceiro-secretário da Câmara, fez um levantamento de suas emendas para mostrar que, em 2005, nenhuma ambulância foi registrada nas emendas que ele apresentou para o Ministério da Saúde. Os prefeitos dos municípios, acrescentou, preferiram usar o dinheiro destinado à área da saúde em reformas e ampliação de postos. Gomes revelou, também, que durante todo o seu mandato foram liberados recursos para a compra de sete ambulâncias. Segundo seu levantamento, elas foram adquiridas em quatro empresas diferentes.

"Esse é o fato concreto", afirmou o tucano. "Não conheço funcionário do Ministério da Saúde, não tenho assessores citados no caso", continuou Gomes. "A execução de minhas emendas no Ministério da Saúde é sofrível".

Também citada em diálogos gravados pela Polícia Federal, a deputada e juíza Denise Frossard (PPS-RJ) disse que sempre foi contra essa prática do parlamento de apresentação de emendas. Ela disse que nunca acompanhou a execução orçamentária e que seus funcionários são orientados a fazer o mesmo. "Minha função é indicar e não liberar. Isso é função do Executivo. Como sou da oposição, não tenho interesse nisso", afirmou. A assessoria da deputada entregou a lista de todas as emendas que ela apresentou durante os seus três anos de mandato. "É óbvio que nada tenho com isso", afirmou ela.

O deputado João Caldas (PL-AL), quarto-secretário da Câmara, disse que o empresário Darci José Vedoin, apontado pela PF como um dos fraudadores, circulava pela Câmara visitando os gabinetes. "Ele e o resto dos empreiteiros do Brasil todo vivem na Câmara. A Câmara é um lobby só", afirmou Caldas. Ele negou, no entanto, que tenha convivência com Vedoin ou que o empresário o tenha visitado. "Só por que lhe telefona, você vai entrar na lista?", perguntou.