Título: Consultor diz que TGV está perto de conseguir dinheiro para levar Varig
Autor: Alberto Komatsu e Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/06/2006, Economia & Negócios, p. B6

O sócio da consultoria Alvarez&Marsal, Marcelo Gomes, responsável pela reestruturação da Varig, afirmou ontem que o Trabalhadores do Grupo Varig (TGV) está próximo de conseguir o suporte financeiro necessário para a aprovação,pela Justiça, da proposta de compra da companhia aérea. Representantes da TGV e de cinco possíveis investidores passaram o dia tentando concluir a engenharia financeira para o pagamento imediato de uma primeira parcela de US$ 75 milhões, que garante a homologação da vitória do TGV no leilão realizado na quinta-feira da semana passada.

"Importante são duas coisas: o dinheiro tem de aparecer, ou se faz uma repactuação de dívidas com credores extra-concursais (débitos contraídos depois que a Varig entrou em recuperação judicial)", disse o juiz Paulo Roberto Fragoso, auxiliar da 8.ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio. Segundo ele, bastariam alongamentos de prazos para pagar débitos com as arrendadoras de aviões, com a BR Distribuidora e com a Infraero para que a Justiça pudesse considerar que há condições para o fluxo de caixa para a Varig voltar a girar e garantir o pagamento de despesas de emergência, principalmente manutenção de aviões.

À tarde, Gomes chegou a dizer que o dinheiro poderia ser depositado ainda ontem. "Nós estamos só aguardando a posição final deles (os investidores) para que a proposta seja honrada", disse o executivo, ao sair da sede da Varig no Rio para uma reunião com os representantes da TGV. Ele citou, como potenciais investidores, os grupos Syn Logística, do ex-presidente da VarigLog José Carlos Rocha Lima, e Fontidec Investment. Este grupo teria entre seus sócios o grupo hoteleiro português Pestana, que já havia sido apontado, no primeiro semestre de 2005, como candidato à compra da Varig, mas nada de consistente se comprovou.

Rocha Lima - que também presidiu a Vaspex (empresa de cargas da Vasp) e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), tendo sido citado na CPI dos Correios - estaria alinhavando o acordo contando com o aval financeiro do fundo americano Carlyle, um grupo que não tem tradição em investimentos na América do Sul. A assessoria da TGV, no entanto, afirmou que há "meia dúzia" de interessados e que nada havia sido fechado ontem por falta de garantias da origem dos recursos.

Gomes afirmou que, confirmado o depósito da primeira parcela, a Nova Varig Participações, empresa formada pela TGV para o leilão da companhia, teria mais tempo para definir de onde viriam os recursos restantes, da proposta de US$ 449 milhões. Mas lembrou que os vencedores do leilão ainda têm de sugerir uma alternativa aos cerca de US$ 200 milhões em debêntures não aceitos como forma de pagamento. O edital de venda da companhia não prevê o uso de debêntures e, segundo Gomes, o TGV analisa o uso de "outra moeda".

Hoje completam-se nove dias desde o leilão de venda da Varig e, até agora, os vencedores não conseguiram comprovar se terão dinheiro para honrar a proposta. Quarta-feira, uma audiência no Tribunal de Nova York vai exigir o mesmo para poder prorrogar liminar que protege a Varig da perda quase imediata de pelo menos 25 aeronaves, o que a impossibilitaria de voar para o exterior, já que destes, 23 são aviões de grande porte.

A pressão vem de arrendadoras de aviões como a ILFC, Boeing, Central Air e Nissho Iwai. Segundo especialistas em aviação, o cancelamento sistemático de vôos que a Varig vem fazendo desde sábado é resultado, também, de uma estratégia da companhia para driblar arrestos de aviões. A Varig estaria substituindo aviões sob ameaça em solo americano por aeronaves que não correm o risco de serem arrestadas.

Na semana passada, contam fontes que acompanham a crise da companhia, uma aeronave que estava prestes a decolar teve de retornar da cabeceira da pista porque o aparelho estava sendo pedido de volta pela Boeing. A saída foi pagar hospedagem para os passageiros que, no dia seguinte, pegaram outro vôo, desta vez em avião que não corria o risco de ser apreendido.