Título: Presidente lança obra sem comprar o terreno
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2006, Nacional, p. A4

A Petrobrás antecipou o lançamento do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, região metropolitana do Rio, para permitir a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A estatal nem sequer comprou o terreno onde será instalado o empreendimento, de US$ 3,5 bilhões, mas convocou para hoje o lançamento da pedra fundamental do projeto, com participação de Lula, que, a partir do dia 30, não poderá mais participar de inaugurações de obras por causa da legislação eleitoral.

A cerimônia será realizada em uma localidade chamada Porto das Caixas, próxima do local onde será instalado o pólo petroquímico. Segundo fontes ligadas ao projeto, a estatal já definiu onde vai instalar a obra, uma área de 20 milhões de metros quadrados ao norte da cidade, mas ainda não conseguiu adquirir os terrenos, que podem ser desapropriados pelo governo do Estado para facilitar a transferência à companhia. Questões como licenciamento ambiental e suprimento de água também estariam em aberto.

Outro evento, também com participação de Lula, está agendado para o Clube Mauá, em São Gonçalo, que sediará uma unidade do pólo petroquímico, responsável pelo bombeamento da produção até o terminal marítimo da Ilha Redonda, na Baia de Guanabara. No fim da tarde, o presidente segue para Nova Iguaçu, onde participa da formatura dos alunos do Mova-Brasil, programa de alfabetização de adultos.

É a segunda vez, em menos de uma semana, que o presidente participa de inaugurações no Rio. Na sexta-feira, ele esteve na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para lançar o programa Procaminhoneiro, e em Paracambi, na Baixada Fluminense, inaugurando uma escola técnica. A agenda ainda previa outra inauguração, em Realengo, zona oeste da capital, cancelada por falta de tempo. No sábado, Lula foi a Vitória com a Petrobrás para lançar as obras do Gasoduto Cacimbas-Vitória.

Representantes da oposição vêem na agenda do presidente a busca pela maior exposição possível antes do dia 30. Depois, já candidato oficial à reeleição, Lula não poderá mais participar de inaugurações. "A Petrobrás está sendo usada como instrumento político", acusa um representante do governo do Rio. De fato, nos últimos meses, o presidente foi convidado pela estatal para cerimônias em Manaus e no Rio Grande do Norte, para lançar as obras do Gasoduto Coari-Manaus e inaugurar uma fábrica de biodiesel, respectivamente.

Além disso, inaugurou duas vezes a plataforma de produção de petróleo P-50 - a primeira, quando a embarcação chegou ao estaleiro Mauá, em Niterói, e a segunda quando começou a operar, na Bacia de Campos. A plataforma é apontada como símbolo da auto-suficiência nacional na produção de petróleo, uma das conquistas citadas repetidamente por Lula em discursos recentes.