Título: Alckmin vira anti-reeleição para atrair Aécio e Serra
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2006, Nacional, p. A6

A adesão do candidato Geraldo Alckmin (PSDB) à proposta de acabar com a reeleição a partir de 2007 é um apelo ao estabelecimento da paz interna no partido e visa a ganhar o franco engajamento em sua campanha dos candidatos José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) - ambos favoritos ao governo em seus Estados nesta eleição e potenciais candidatos à Presidência em 2010. Ao resistir a um acordo para acabar com a reeleição, como informou o Estado anteontem, Alckmin desestimulava os dois a se engajarem firmemente em sua campanha.

Em fevereiro, no auge da disputa pela indicação tucana à Presidência, Serra fechou um acordo com Aécio: se indicado pelo partido e se eleito para a Presidência, proporia o fim da reeleição em todos os níveis. Para Aécio, ficou claro que Serra cumpriria apenas um mandato e abriria caminho para o mineiro disputar a Presidência daqui a quatro anos. Essa foi uma das razões pelas quais Aécio apoiou discretamente Serra então.

Quando Alckmin assumiu a candidatura, deu sinais de que concordaria com o pacto. Mas depois de indicado pela cúpula do partido não tocou mais no assunto, o que passou a incomodar Aécio e Serra. Nas últimas semanas, assessores de Alckmin se queixaram de que Aécio e Serra não estavam "suando a camisa" pela campanha do ex-governador paulista.

Os dois negam que não estejam apoiando Alckmin com força. Mas pelo menos Aécio não omitiu de amigos a preocupação com um dado: se eleito, Alckmin poderá concorrer novamente em 2010. Se isso acontecer, Aécio perde a chance de sair do governo de Minas e se catapultar à Presidência; assim Serra seria empurrado para a disputa de 2014, quando já estará com 72 anos, o que poderia reduzir sua competitividade.

SINAIS DE FUMAÇA

Alckmin entendeu os sinais de fumaça e anteontem disse que proporá o fim da reeleição no pacote que promete mandar ao Congresso em janeiro de 2007 - obviamente, se for eleito. Foi a primeira vez em muitos meses que ele falou claramente sobre o tema. Alckmin disse ontem que proporá o fim da reeleição, com a manutenção dos mandatos de quatro anos, "para não haver eleição todo ano".

Esta semana Aécio Neves disse ao Estado que tem pronta uma proposta diferente: ele quer o fim da reeleição, com a fixação de cinco anos para todos os mandatos. Segundo a proposta, num ano haveria eleições no plano estadual (governos estaduais e assembléias) e no municipal (prefeitos e vereadores); no ano seguinte, seria a vez de eleições nacionais (presidente, senadores e deputados federais). Os mandatos de deputados passariam a ser de cinco anos e os dos senadores, de dez.

Com esse formato, diz ele, as duas modalidades de eleição teriam discussões bem específicas, evitando o cruzamento de problemas regionais com problemas nacionais. E o País teria três anos corridos sem as turbulências provocadas pelas eleições. Alckmin ouviu a proposta por intermédio do Estado e qualificou-a como aceitável, porque prevê um intervalo de três anos sem eleições.

Aprovar o fim da reeleição no Congresso não seria difícil. O PT daria apoio entusiasmado em dois cenários possíveis. Se Lula vencer em outubro, os petistas marcharão para 2010 arcando com o inevitável desgaste do segundo mandato e sem um candidato de peso (não ter reeleição garante que um eventual vitorioso tucano não teria o segundo mandato); se Lula não vencer, o PT desde já terá a garantia de que o eleito agora não bisaria o mandato em 2010.