Título: Invasão de fazenda com 28 reféns divide sem-terra em MS
Autor: João Naves
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2006, Nacional, p. A9

O Movimento dos Sem-Terra (MST) resolveu assumir sozinho o protesto na Fazenda Teijin e manter reféns 28 funcionários da propriedade. "Aqui ninguém entra, ninguém sai", afirmou um dos líderes da mobilização, que reúne 467 famílias. Segundo esse líder, os sem-terra estão se revezando na guarda dos acessos ao local desde as 6 horas de segunda-feira e não têm data para libertar os empregados.

A Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri) de Mato Grosso do Sul não está mais participando do bloqueio, garantiu o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Andradina, Adilson Emelli. "Resolvemos acreditar mais uma vez nas providências do Poder Judiciário, a nosso favor. Acreditamos que dentro de no máximo 30 dias tudo será resolvido", disse.

Quanto à possibilidade da reintegração de posse do imóvel por parte do proprietário, o sindicalista disse que isso não pode acontecer. "Aí sim, vamos brigar muito e feio", ameaçou. Ele explicou que a Fetagri está com 600 famílias dentro da fazenda, todas em suas moradias, há dois meses. "Nosso pessoal produz mais de 7 mil litros de leite por dia. Temos mais ou menos 7 mil vacas produzindo. Não temos lavouras nem hortas, porque estamos apenas há dois meses atuando como assentados."

Para o MST, não há nada decidido. Os líderes, que não querem ser identificados, explicam que a questão da Fazenda Teijin está confusa desde sua desapropriação pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A propriedade, de 28.500 hectares, está situada nas margens da BR-267, no município de Nova Andradina, leste de Mato Grosso do Sul.

"Tudo começou no ano 2000, quando a fazenda foi considerada improdutiva pelos técnicos do Incra. De lá para cá, a Justiça deu imissão de posse do imóvel ao Incra duas vezes e cancelou as duas. Foram expedidas dez liminares, entre os apelos do Incra e do proprietário", explicou um membro do MST.

No dia 6 deste mês, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região em São Paulo julgou mais um apelo do Grupo Agropecuário Teijin e expediu liminar suspendendo a demarcação dos terrenos na fazenda e os efeitos da desapropriação. A decisão foi contestada tanto pelo MST quanto pela Fetagri, que têm 1.067 famílias à espera de assentamento na Teijin.

Além dos reféns, o MST continua mantendo cerca de 10 mil bovinos confinados em um cercado de 100 hectares, sem água nem alimentação. Também estão juntando pedras, troncos de árvores e pneus velhos para bloquear a partir da próxima semana a BR-267. A Polícia Rodoviária Federal informou que mantém plantão no local. Procuradores do Incra estão em São Paulo tentando resolver a questão na Justiça Federal.