Título: Mísseis de Israel matam 10 em Gaza
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2006, Internacional, p. A10

Um ataque aéreo israelense ontem matou um líder da Jihad Islâmica e seu assessor, duas crianças e outros seis civis palestinos, inflamando ainda mais os ânimos na Faixa de Gaza. Outras 32 pessoas ficaram feridas, Esse foi o ataque israelense mais mortífero em quase quatro anos. Apenas quatro dias atrás, oito pessoas, das quais sete de uma família que fazia piquenique numa praia de Gaza, foram mortas pela artilharia de Israel (que ontem negou responsabilidade por essas mortes).

As Forças Armadas de Israel intensificaram nas últimas semanas suas operações contra as organizações palestinas que lançam foguetes contra o sul israelense. O alvo de ontem era Harmud Wadiya, o líder da Jihad encarregado dos disparos dos projéteis. A aviação lançou um míssil contra a van em que viajavam Wadiya e militantes na estrada principal da Cidade de Gaza. O segundo míssil atingiu crianças, três membros de uma equipe médica e pessoas que se aglomeraram em torno da van já destruída.

A escalada no conflito palestino-israelense coincide com a crescente violência entre o grupo radical islâmico Hamas, que chefia o governo, e o partido Fatah, do presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas. Na sexta-feira, depois das mortes da família na praia, o Hamas anunciou o fim de seu compromisso com a trégua nos ataques a Israel, mantido havia 16 meses. E o governo israelense, por sua vez, informou que se o Hamas voltar a desfechar atentados suicidas, seus dirigentes no governo palestino passarão a ser alvo dos mísseis.

Em meio a esse quadro, no sábado Abbas convocou para 26 de julho um referendo no qual os palestinos serão consultados sobre um plano que implica o reconhecimento da existência de Israel ao lado de um Estado palestino. Mas a intensificação dos ataques israelenses e o fim da trégua do Hamas atrapalham essa iniciativa, pois tendem a acentuar a animosidade da população em relação a Israel e ampliar o caos na região.

Além disso, os choques entre militantes da Fatah e do Hamas aumentaram nas últimas semanas. Na segunda-feira, partidários do Hamas invadiram na Faixa de Gaza um edifício das forças da Segurança Preventiva, subordinadas a Abbas. Depois, membros de uma milícia ligada à Fatah e integrantes da Segurança Preventiva invadiram o Parlamento e o escritório do primeiro-ministro, em Ramallah, na Cisjordânia. Computadores e móveis foram destruídos e os bombeiros apagaram um incêndio ateado no quarto andar do Parlamento. Ontem Abbas ordenou o reforço da segurança dos líderes do Hamas .

Após os ataques que mataram as dez pessoas em Gaza, Abbas acusou Israel de "terrorismo de Estado". No necrotério do Hospital Shifa, em Gaza, parentes dos mortos e feridos se aglomeravam. "Morte a Israel, morte à ocupação", gritava uma mulher, em meio às famílias que recolhiam os corpos para preparar os funerais.

Com o véu ensangüentado, Hekbat Mughrabi, contou que seu filho Ashraf, de 30 anos, e outro parente, de 13 anos, morreram quando o segundo míssil caiu perto de sua casa. Ao escutar o primeiro míssil, ele correu para para acalmar as crianças que brincavam e foi atingido. Estilhaços da explosão feriram várias pessoas da família.

O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, autorizou a entrada nos territórios de armas e munição para as forças de segurança leais a Abbas, que estão em situação precária.