Título: Ex-paramilitares ameaçam pegar em armas
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2006, Internacional, p. A13

O ex-líder paramilitar colombiano e porta-voz da cúpula das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), Iván Roberto Duque, disse ontem que o processo de paz com o governo está agonizando por causa de uma decisão que estabelece penas de mais de 40 anos de prisão para os desmobilizados.

"Estou convencido de que no pensamento de muitos de nossos ex-combatentes, é preferível morrer a ficar 40 anos na prisão quando foram produto de um Estado indolente que durante mais de 30 anos não garantiu a vida, a segurança e a liberdade dos colombianos", disse Duque, também conhecido como Ernesto Báez, às rádios RCN e Caracol.

Os paramilitares ficaram irritados com uma decisão tomada pela Corte Constitucional no dia 18 de maio que os obriga a confessar seus delitos e ressarcir economicamente suas vítimas para evitar longas condenações. A corte também deixou sem efeito alguns pontos da lei, aprovada em junho de 2005 pelo Congresso, como o benefício de penas de 5 a 8 anos de prisão para os que tivessem sido condenados anteriormente no processo de paz.

Os paramilitares, que começaram a agir nos anos 80, são um subproduto do conflito entre as tropas do governo e as guerrilhas. Os esquadrões surgiram com o apoio de fazendeiros, comerciantes e empresários para lutar contra os rebeldes à margem da lei. Sem contar as execuções e seqüestros, essas organizações acabaram, em muitos casos, se tornando o braço armado de narcotraficantes.

Em março de 2003, o presidente Álvaro Uribe começou o processo de paz com a intenção de trazer combatentes - paramilitares e rebeldes - de volta para a vida civil. Desde então, cerca de 40 mil foram reinseridos na sociedade (dois terços deles paramilitares).

Apesar de o porta-voz das AUC ter desmentido a ruptura do diálogo com o governo, qualificou a situação atual como "praticamente o fim" do processo de paz. A desmobilização tinha sido criticada pelas organizações humanitárias locais e internacionais, que consideraram a Lei de Justiça e Paz muito branda e excessivos os benefícios concedidos em comparação às matanças que cometeram. Alguns esquadrões já retornaram à luta armada, segundo fontes do governo.