Título: Anac discute redistribuição de linhas
Autor: Vânia Cristino e Odail Figueiredo
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2006, Economia & Negócios, p. B3

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) está finalizando os detalhes do plano de contingência a ser aplicado caso se confirme a possibilidade de a Varig paralisar suas atividades. O plano, que trata da redistribuição das linhas operadas pela Varig para outras companhias, foi discutido ontem entre dirigentes da Anac e presidentes e diretores de empresas aéreas. Hoje deve haver uma reunião com técnicos das companhias.

O presidente da Anac, Milton Zuanazzi, confirmou a existência do plano, mas não a reunião. "Seria um absurdo se não tivéssemos um contingenciamento, assim como também seria uma irresponsabilidade anunciá-lo ou detalhá-lo antes que o fato aconteça." De acordo com Zuanazzi, as reuniões com o setor para "treinamento" do contingenciamento são praticamente diárias. "Pedimos informações periodicamente porque o plano tem de ser atualizado de acordo com números que mudam sempre, como, por exemplo, a quantidade de passageiros", esclareceu.

Apesar da situação que parece se agravar a cada dia, Zuanazzi disse que está confiante numa solução para a Varig. "Por agora a Varig está viva", declarou. Na sua avaliação, o Grupo TGV, que apresentou uma proposta de compra da companhia, vai cumprir hoje as exigências feitas pelo juiz Luiz Roberto Ayoub, responsável pelo leilão de recuperação da empresa realizado na semana passada, inclusive no que diz respeito à exigência de um depósito de US$ 75 milhões.

Ele disse estar convencido da existência do investidor estrangeiro que banca a proposta, até o momento não identificado. Segundo o presidente da Anac, tão logo o dinheiro esteja disponível acabam os problemas de curto prazo da empresa. Com os US$ 75 milhões, segundo ele, será possível à nova Varig colocar vários pagamentos de curto prazo em dia, inclusive as dívidas com a Infraero, a BR Distribuidora e as empresas de leasing de aviões, que estão requerendo o arresto de bens da empresa na Justiça americana. Dessa forma, a empresa, segundo ele, ganhará um fôlego de pelo menos 30 dias. Esse também é o prazo que a Anac tem para homologar a nova companhia.

"Na Corte de Nova York ,os recursos necessários são de US$ 20 milhões", observou Zuanazzi, para explicar que mesmo que uma decisão desfavorável seja adotada no exterior no curto prazo, como por exemplo o arresto de aviões, a nova Varig com dinheiro tem condições de resolver a situação de imediato. "Basta ir lá, pagar e pronto."

A principal preocupação da Anac, no plano de contingência, é em relação aos passageiros das linhas internacionais. Caso a Varig saia do mercado, as linhas seriam redistribuídas pelas concorrentes, e a principal candidata a receber as concessões internacionais de longa distância é a TAM, que já voa para Nova York, Miami e Paris. A empresa poderia antecipar sua estréia para Londres, prevista para outubro. A BRA pode assume as rotas para Lisboa e Madri, destinos para os quais já tem autorização para voar. Os maiores problemas são Frankfurt - mais crítico ainda por causa da Copa do Mundo - e Milão. Na América do Sul, Gol e TAM teriam condições de absorver a maior parte dos vôos.

No mercado doméstico, a absorção das rotas pelas concorrentes seria mais rápida, já que a Varig tem hoje menos de 15% do mercado. As empresas deverão acomodar os passageiros com bilhetes emitidos pela Varig em seus vôos, de acordo com a disponibilidade de assentos. O governo não deve reembolsar as empresas por isso.