Título: Pressão maior vem do núcleo no atacado
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2006, Economia & Negócios, p. B4

A inflação no atacado nos Estados Unidos foi de apenas 0,2% em maio, abaixo das previsões dos analistas, mas o seu núcleo, que exclui os preços voláteis da energia e dos alimentos, avançou 0,3%, num aparente sinal de que as pressões inflacionárias são mais fortes do que se imaginava.

O Índice de Preços ao Produtor (PPI, da sigla em inglês) é um dos principais indicadores avaliados pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) ao elaborar a política monetária. Ele é tido como uma prévia do Índice de Preços ao Consumidor. Os analistas esperavam um índice de 0,4%, e a melhoria refletiu o fato de os preços da energia terem subido somente 0,4%, depois de um salto de 4% em abril, enquanto os preços dos alimentos caíram 0,5%.

No entanto, o núcleo do PPI subiu 0,3%, ante 0,1% em março e abril. Os analistas estavam esperando um avanço de 0,2%. A alta de 0,3% foi a maior desde fevereiro (0,4%).

Em Wall Street, ganhou força a sensação de que o juro básico americano deverá ser novamente aumentado em 0,25 ponto porcentual, para 5,25% ao ano, na reunião do Fed dos dias 28 e 29, para conter o potencial inflacionário. Isso tem causado sérios transtornos nos mercados mundiais, que temem a diminuição do fluxo de capitais para os países emergentes, ante a remuneração mais atraente dos títulos denominados em dólar. Também aumentou o receio de que a economia possa crescer mais devagar.

Em decorrência, alguns economistas acreditam que o volume de importações dos EUA poderia, em tese, cair, causando enormes problemas em todo o mundo.

VENDAS E ESTOQUES

O governo americano também informou que as vendas no varejo subiram só 0,1% em maio, refletindo queda na comercialização de veículos. Excluindo os automóveis, as vendas subiram 0,5%, mas parte desse ganho decorreu do forte aumento no preço da gasolina em diversos Estados. Já os estoques no comércio subiram 0,4% em abril, depois de avançarem 0,7% em março. A elevação dos estoques num período em que a economia está se desacelerando poderia ser um sinal de que a produção industrial será reduzida nos próximos meses, para manter os estoques em linha com as vendas.

Para os analistas, as fracas vendas no varejo em maio foram coerentes com a visão de que a economia está reduzindo o ritmo de crescimento. No primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA cresceu 5,3% (projeção anualizada), puxado principalmente pelo forte aumento das despesas do governo na reconstrução das cidades atingidas por furacões no Golfo do México.

Para o atual trimestre, espera-se um aumento do PIB em torno de 3%.

"Houve uma certa desaceleração nos gastos do consumidor, mas como os preços no varejo subiram, não foi um movimento significativo", comentou Joel Naroff, economista-chefe da Naroff Economic Advisors.

Os preços no atacado subiram 0,5% em março e 0,9% em abril.