Título: Para o FMI, aumentou o risco de crise mundial
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2006, Economia & Negócios, p. B4

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, reafirmou ontem a previsão de crescimento de 5% da economia mundial neste ano. Mas também alertou que a atual volatilidade nos mercados globais deixa claro o aumento do risco de uma crise.

"Embora o que tenhamos visto até agora seja uma modesta correção dos preços dos ativos, há evidências de maior aversão ao risco, com os investidores reavaliando as perspectivas da liquidez, da inflação e do crescimento", disse Rato, em palestra em Camberra, Austrália.

"Diante do aumento das expectativas inflacionárias e preocupações de que juros mais altos poderão frear o crescimento, o papel de equilíbrio exercido pelos bancos centrais ficou mais difícil." Segundo ele, os governos podem facilitar essa tarefa enfrentando alguns dos riscos, com a ajuda do Fundo.

Para o chefe do FMI, alguns riscos são óbvios, como os preços do petróleo e a gripe aviária. Nessas áreas, observou, estão sendo tomadas medidas preventivas. "Entretanto, mais esforço é necessário para enfrentar o terceiro maior risco, o desequilíbrio nas contas de pagamentos globais", disse.

"Os sinais mais óbvios desses desajustes é o amplo déficit em conta corrente dos Estados Unidos e os grandes superávits em conta corrente de países como os exportadores de petróleo, o Japão e outros emergentes asiáticos, especialmente a China."

Rato observou que os desequilíbrios entre os Estados Unidos e o resto do mundo não são sustentáveis. "Os consumidores americanos não podem continuar sustentando a demanda no resto do mundo indefinidamente", disse. "E outros países não vão financiar o consumo americano para sempre."

"Se nada for feito, os desequilíbrios não serão reduzidos gradualmente, mas subitamente, causando problemas", disse. "Poderia ocorrer uma queda abrupta na taxa de crescimento de consumo nos Estados Unidos, talvez iniciada por uma desaceleração no mercado imobiliário, deixando os países dependentes em exportações com demandas inadequadas, ou um ajuste desordenado criado por acontecimentos nos mercados financeiros.