Título: Inflação americana derruba Bolsas
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2006, Economia & Negócios, p. B4

As Bolsas mundiais tiveram mais um dia negativo ontem à espera de indicadores da economia americana. A Bolsa de Valores de São Paulo, que teve um dia mais curto por causa da estréia da Seleção brasileira na Copa do Mundo, fechou em queda pela terceira vez consecutiva e acumulou perda de 10,08% no mês de junho. Só ontem o recuo foi de 2,11%, para 32.847 pontos, o menor nível desde 8 de dezembro de 2005.

Até sexta-feira, a Bolsa paulista havia registrado um saldo negativo de R$ 1,13 bilhão de investimento estrangeiro, resultado de compras no valor de R$ 5,71 bilhões e vendas de R$ 6,84 bilhões. No ano, o fluxo ainda está positivo em R$ 582,89 milhões.

O stress no mercado doméstico reflete o temor dos investidores em relação ao futuro da economia mundial. Além dos americanos, que devem manter o aperto monetário este mês e elevar o juro básico no dia 29, vários países optaram por elevar suas taxas como fórmula para conter os índices de inflação. Nesse cenário de incertezas, os investidores preferem reduzir posições em mercados de ações, considerados de maior risco, especialmente nos países emergentes. Normalmente, eles se refugiam em títulos governamentais, como os Treasuries americanos, considerados uma aplicação segura.

Esta semana, as Bolsas estão refletindo a preocupação com os índices de inflação dos Estados Unidos em maio. Ontem foi divulgado o Índice de Preços ao Produtor. Os números não foram tão ruins, mas não ajudaram a aliviar a tensão do mercado financeiro, afirma o economista da López León, Flávio Serrano. Os investidores preferiram manter a cautela e esperar a divulgação, hoje, do Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês).

Com isso, as Bolsas de Nova York operaram o dia todo em terreno negativo. A Nasdaq fechou em queda de 0,90%, o Dow Jones recuou 0,80%, e o Standard & Poor's 500, que reúne os papéis das maiores empresas, 1,03%. Na Europa e na Ásia o desempenho também foi ruim. Em Frankfurt, a Bolsa recuou 1,92%; Londres, 1,80%; Paris, 2,24%; Madri, 2,12% e Tóquio, 4,14%. Na América Latina, o Índice Merval da Argentina caiu 0,99% e a Bolsa do México, 1,96%.

Segundo o gestor da Máxima Asset Management, Renato Motta, as commodities também tiveram um dia nervoso e fecharam com forte queda. Os contratos de cobre e ouro caíram em média 7%; a cotação da prata desabou 13% nos contratos de julho.

"O medo de desaceleração da economia mundial, aliado ao fato de que essas commodities atingiram patamares históricos nos últimos meses, provocou forte queda nos últimos dias", diz Motta.

A turbulência também atingiu o mercado de dívidas. Os papéis brasileiros no exterior terminaram o dia em queda. O A-Bond caiu 0,47%, vendido com ágio de 5%, e o BR-40 caiu 0,08%. O risco Brasil avançou 3%, para 275 pontos, enquanto o risco dos emergentes subiu em média 4,04%, para 232 pontos. No mercado de câmbio, o dólar fechou em alta de 0,31%, cotado a R$ 2,297. No período de um mês, o comercial subiu 7,14%.

Hoje, além do CPI de maio, os investidores estarão atentos aos indicadores que serão apresentados no Livro Bege, relatório mensal sobre a economia americana.

Outro fato que será monitorado pelo mercado são os discursos de dois dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). A diretora do Fed, Susan Bies, falará sobre o mercado imobiliário, em conferência na Califórnia, e o presidente do Fed de Dallas, Richard Fisher, discursará sobre as condições da economia dos EUA.