Título: 'Brasil tem a meta de inflação mais alta'
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2006, Economia & Negócios, p. B5

O Brasil tem a meta de inflação mais elevada entre os países que adotaram esse regime. A afirmação do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi uma tentativa de demonstrar aos senadores da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) que o Brasil não adotou objetivos exageradamente ambiciosos, ao contrário do que costumam afirmar os críticos da atuação "ortodoxa" do Banco Central (BC). Pelo contrário, no governo Fernando Henrique Cardoso já se trabalhava com metas de 3,25%, bem inferiores aos atuais 4,5%. "Não procede a afirmação de que essa administração fixou metas excessivamente baixas ou ambiciosas", disse Meirelles.

Hoje, a meta para a inflação no Brasil é de 4,5%, com margem de tolerância de 2 pontos porcentuais, o que quer dizer que uma inflação de até 6,5% é considerada dentro da meta. Essa taxa de 6,5% é a maior entre os países que usam o sistema de metas de inflação.

No fim deste mês, o Conselho Monetário Nacional (CMN) vai confirmar ou não a meta de inflação para 2007, fixada provisoriamente em 4,5%, e anunciar a meta para 2008. Meirelles não quis fazer comentários sobre qual deverá ser a decisão do CMN. Nos bastidores, comenta-se que a tendência é manter os 4,5%.

Meirelles e seis dos sete diretores do BC passaram ontem cinco horas no Senado, numa reunião classificada como "surreal" pelo senador Jefferson Peres (PDT-AM). Primeiro, porque o Brasil estrearia na Copa do Mundo dali a algumas horas, e alguns senadores não escondiam a ansiedade. "Temos um compromisso inadiável às 16 horas", disse o senador Luiz Otávio (PMDB-PA).

Segundo, porque a diretoria do BC estava no Senado por insistência do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que queria entender a linha de raciocínio dos integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom), responsável pela fixação das taxas de juros no País. "O senador Suplicy, que é do governo, critica o Banco Central. Eu, que sou da oposição, tomo a palavra para defendê-lo", comentou Peres. Na mesma linha, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) perguntou a Meirelles se o fato de um parlamentar do PT haver convocado tal reunião não obrigaria o BC a ser "mais duro", por gerar inseguranças no mercado financeiro.

Tão pequeno era o interesse naquele debate que a reunião começou com quase uma hora de atraso. Meirelles e os diretores estavam no Senado às 9h30, quando a reunião deveria começar. Naquela hora, nem o senador Suplicy, autor do convite, estava na CAE. Durante toda a reunião, nove senadores passaram pela Comissão, mas não ficaram até o fim. O presidente, Luiz Otávio, fez um apelo a Suplicy para que resumisse "só hoje" sua intervenção. O senador paulista é conhecido por suas falas longas e lentas.

Cinco horas depois, quando a reunião acabou, havia só dois senadores na CAE: Suplicy, que presidia a mesa, e o senador Gilberto Mestrinho (PMDB-AM). No fundo do auditório, aposentados do Banespa, que reclamam índices de correção maiores para seus benefícios.

Os dois senadores petistas presentes à reunião, Eduardo Suplicy e Ana Júlia Carepa (PA) queriam saber se as taxas de juros precisam mesmo ser tão altas e se os efeitos delas sobre a economia não preocupam o Banco Central. "Preocupam 100%", disse Meirelles. Ele procurou demonstrar, porém, que a exemplo de outros países que conseguiram controlar a inflação, o Brasil começa a ter taxas de crescimento econômico consistentes.