Título: Exportação perde fôlego e já ameaça empregos
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2006, Economia & Negócios, p. B6

A perda de fôlego das exportações por causa do câmbio desfavorável já compromete a capacidade de geração de empregos na indústria. Levantamento da consultoria MB Associados mostra que a quantidade das exportações brasileiras de manufaturados cresceu 4,6% no primeiro trimestre de 2006, em relação a igual período do ano passado, o que resultou em perda de 1% nos postos de trabalho. Na mesma comparação em 2005, as vendas externas em quantidade de manufaturados apresentavam expansão de 22,9% e o emprego do setor crescia 2,6%.

"A perspectiva do emprego industrial para este ano é de um crescimento bem menor do que o observado em 2005. Pode até fechar o ano com variação negativa, dependendo do que acontecer com o câmbio nos próximos meses", diz o economista Sérgio Vale, responsável pelo levantamento da MB Associados.

Para medir o impacto da perda de dinamismo das vendas externas de manufaturados (principalmente têxteis e calçados) na desaceleração do ritmo de crescimento do emprego industrial, a consultoria se baseou em dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa tendência deve se refletir também nos números do emprego do setor relativos ao mês de fevereiro, que serão divulgados hoje pelo IBGE.

Além da redução na quantidade de manufaturados exportados pelo País, o empresário Paulo Francini, diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), frisa que a criação de postos de trabalho é afetada também pela substituição do atendimento da demanda de produção doméstica por importados.

"Já acendeu uma luz amarela", diz Francini, referindo-se a diminuição no ritmo de contratações na indústria paulista em maio. Conforme dados divulgados semana passada pela Fiesp, o nível de emprego industrial no Estado cresceu 0,7% em abril, com a abertura de 15 mil vagas. O número é bem inferior aos 40 mil postos criados em abril, quando a expansão foi de 1,92%.

"A recuperação que se observa no mercado doméstico ainda é insuficiente para compensar os reflexos da perda de ritmo nas exportações, frisa Sérgio Vale. Segundo ele, o crescimento do consumo interno se concentra nas bases inferiores de renda, que compram muitas quinquilharias importadas, principalmente da China.