Título: Quem conhece envolvidos prefere manter o silêncio
Autor: Angélica Santa Cruz
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2006, Metrópole, p. C1,3

Ex-empregadas trocaram número de telefone com medo de represálias; mas todos defendem condenação

Alessandra Pereyra, Silvia Amorim

Três anos e sete meses depois do assassinato do casal Manfred e Marísia von Richthofen, ex-funcionários, vizinhos e amigos da família ainda evitam falar no assunto. Mesma atitude têm aqueles que, em decorrência do crime, tiveram algum contato com Suzane von Richthofen e os irmãos Daniel e Christian Cravinhos.

Entre as pessoas que, por acaso, foram envolvidas em uma das histórias policiais mais famosas já registradas em São Paulo, a opinião é consenso: quanto menos se comentar o caso, mais depressa ele cairá no esquecimento. "Quero deixar todo aquele período para trás. Foram dias terríveis. Fiquei muitas noites sem dormir. Não acompanho os noticiários nem quero saber o resultado desse julgamento. Temos de entregar para Deus e esquecer tudo isso. Por favor, não ligue mais", reagiu uma pessoa que não quis ser identificada. Ela trabalhou com o engenheiro Manfred, pai de Suzane, e se tornou avessa a entrevistas.

Da mesma maneira, cinco ex-empregadas dos Richthofen, que trabalharam na residência no Campo Belo, zona sul, preferem não revelar detalhes sobre a família ou sobre os fatos que marcaram aqueles dias. Algumas chegaram a trocar de telefone para acabar com o assédio da imprensa. Outras se recusaram a falar e pediram que seus nomes não fossem publicados, por medo de represálias nos novos empregos.

É o caso de uma ex-empregada dos Richthofen que hoje trabalha em uma empresa de limpeza. Embora tenha rejeitado a idéia de dar entrevista, ela concordou em falar sobre o que espera do julgamento: "Acho que Suzane deveria apodrecer na cadeia. Essa história de prisão domiciliar, por exemplo, me deixa indignada. É muita 'boiada'. Mas não quero me envolver mais. Dou minha opinião como ser humano: quem mata os pais tem de apodrecer presa."

Leandro de Araújo Dias, de 26 anos, que trabalhava na lan house Red Play, para onde Suzane levou o irmão Andreas na noite do crime, também tem dúvidas sobre a condenação do trio. "Ela foi presa, saiu, voltou e agora está em casa. No nosso país, a gente nunca sabe se os culpados vão pagar mesmo pelo que fizeram. Espero que sim", disse. "Quando vieram deixar o Andreas na lan house, estavam alegres como nos outros dias."

Dias contou que Andreas freqüentava o local havia alguns meses. Na noite do crime, brincou no computador normalmente. "Na madrugada, recebeu um telefonema no celular, fechou a conta e foi embora de mobilete. Nunca mais apareceu", contou.

"Matou tem de arcar com as conseqüências", disse rapidamente Ana Maria Tamaributi, que na época do crime era secretária no consultório de psiquiatria de Marísia von Richthofen. "Que seja feita a Justiça. Que ela (Suzane) fique presa."

Mesmo tanto tempo depois do crime, o comerciante Marcos Nahime, de 43, dono da loja onde Christian comprou uma moto por US$ 3.600, poucas horas após o assassinato, ainda se escandaliza com o comportamento frio do rapaz. "O crime foi muito bárbaro e ele, horas depois de ter matado duas pessoas a pauladas, estava rindo enquanto escolhia uma moto. Não sentiu remorso."

Morador do Campo Belo, o empresário Luiz Antônio da Costa, de 81 anos, não está convencido de que será feita justiça. "Ela vai ficar livre ou pegar pena bem pequena e os irmãos Cravinhos também. Vai dar em pizza."