Título: Economia em alta é o principal cabo eleitoral de Lula
Autor: Sônia Filgueiras
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

Previsão para outubro é de consumo aquecido, juro no no nível mais baixo desde 1996 e crescimento de 4%

Quando o eleitor for registrar seu voto na urna eletrônica, em outubro, a economia estará exibindo uma expansão na casa dos 4% em 12 meses e a taxa básica de juros da economia, a Selic, deverá estar em 14,5% ao ano, o nível mais baixo desde a criação do Comitê de Política Monetária (Copom), em 1996. Esse cenário favorável, projetado pela Tendências Consultoria Integrada e endossado por boa parte do mercado, é considerado o principal cabo eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa por mais um mandato na Presidência da República.

Para alegria de Lula, o quadro de expansão econômica estará associado ao bom desempenho de indicadores econômicos eloqüentes para o eleitorado: a expectativa é de que o crédito em geral, inclusive o consignado, menina-dos-olhos do governo, cresça neste ano 22% acima da inflação, muito próximo dos 29% reais de 2005. Já a renda do brasileiro, prevê a Tendências, deve se expandir em 5,4%, resultado superior ao projetado para o PIB. Ou seja, às vésperas da eleição, o cenário apontado é o de consumo aquecido.

"O crescimento da renda é um dos fatores mais visíveis, sobretudo nas classes D e E. A queda do preço dos alimentos, associada a medidas de caráter eleitoral, como o aumento real do salário mínimo e o reforço do Bolsa-Família, elevaram o poder de compra dessa faixa", avalia o ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências, Gustavo Loyola.

São resultados econômicos que ajudam a consolidar a dianteira de Lula nas pesquisas eleitorais, nos segmentos de renda mais baixa e no interior do País.

"O governo atual poderá dizer que, sob sua administração, a economia cresceu mais do que no anterior, o que é um fato. Poderá dizer que está criando condições para crescer em torno de 4% nos anos subseqüentes, o que é correto em parte, e que ficaram para trás as grandes crises, o que é razoável", avalia o economista Fábio Giambiagi, que coordena as avaliações de conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Giambiagi trabalha com um crescimento um pouco mais modesto, entre 3,5% e 4% do PIB, mas concorda com o cenário econômico turbinado em 2006, bem melhor do que o de 2005, quando a expansão do PIB foi de apenas 2,28%.

Loyola não acredita que a turbulência internacional recente possa afetar o cenário que Lula deve levar ao palanque, mas faz uma severa ressalva para o futuro. "A situação fiscal está piorando e a qualidade do gasto público também."

Giambiagi faz advertência idêntica. "O calor do debate eleitoral é pouco propício a discussões sobre, por exemplo, uma reforma para conter o déficit da Previdência Social, mas, após as eleições, a primeira questão a ser colocada para o próximo governante, seja ele qual for, envolverá o campo fiscal."