Título: PT é atrasado nos seus sonhos e métodos, acusa Alckmin
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2006, Nacional, p. A4

O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, fez ontem na convenção estadual do partido em São Paulo um dos discursos mais inflamados desde que se lançou na corrida ao Palácio do Planalto. A fala de Alckmin, feita de improviso, surpreendeu até mesmo seus interlocutores, que acreditam que, finalmente, o ex-governador paulista entendeu que a "campanha está nas ruas".

Em resposta a Lula, que ao ser lançado candidato à reeleição no domingo disse que tucanos e pefelistas representam "as vozes do atraso", Alckmin afirmou que atraso é o governo do PT. "Ontem eu vi, presidente Fernando Henrique, o nosso adversário falar do atraso, e nós realmente ficamos tristes pelos tempos atuais, porque a política do atraso foi o que nós vimos no Brasil", rebateu. "Política atrasada que não existe mais em nenhum dos nossos rincões. Essa visão patrimonialista de aparelhamento do Estado", prosseguiu.

Alckmin disse mais. Falou que o PT de Lula é um partido "atrasado nos seus sonhos e nos seus métodos" e que faz "política atrasada ao ficar denegrindo o antecessor." Na seqüência, não deixou de mencionar os escândalos de corrupção da administração petista, como a recente Operação Sanguessuga, que detectou desvio de recursos no Ministério da Saúde.

Assim como Fernando Henrique Cardoso fizera antes, o candidato do PSDB ao Planalto - que não citou Lula uma única vez - disse que o adversário é bom em propaganda. "Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica), só na propaganda. Como não existe a transposição do São Francisco, a Transnordestina. Como não existe o Fome Zero, o Primeiro Emprego, o Banco Popular. O que existe é a mentira reiterada", acusou o tucano.

UNIDADE

A convenção que homologou o nome de José Serra como candidato ao governo de São Paulo ontem se transformou em um ato de desagravo a FHC e fez com que tucanos demonstrassem unidade até agora não vista na reta inicial da campanha. Um dos principais responsáveis pelo discurso afinado, segundo os próprios tucanos, foi o ex-presidente. FHC viu na fala de Lula anteontem em Brasília a senha para que os tucanos, enfim, centrassem foco e energia em atacar o adversário, e não a si mesmos. Alckmin, Serra e Fernando Henrique chegaram juntos à convenção paulista do PSDB ontem, pouco depois das 13 horas. Antes, se reuniram na sede estadual do partido para uma conversa, que horas depois pareceu ter surtido efeito, pelo menos no palco.

Ao contrário da convenção que sacramentou o nome de Alckmin ao Planalto em Belo Horizonte, no dia 11, o ato de ontem foi marcado por discursos entusiasmados e troca de afagos até mesmo entre e Alckmin e Serra. Até agora, Serra e o governador de Minas, Aécio Neves, eram acusados de pouco engajamento na candidatura nacional do partido. Ontem, Serra emitiu sinal oposto. Hoje, Alckmin segue em direção a Uberaba para, com Aécio, também dar mostras de que, desta vez, a unidade do PSDB é para valer.