Título: Serra promete menos impostos
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2006, Nacional, p. A5

Confirmado candidato do PSDB ao governo de São Paulo com 99,36% dos votos (2.166) na convenção do partido ontem, José Serra prometeu reduzir os impostos no Estado para facilitar investimentos produtivos e gerar empregos, priorizar a educação - oferecendo duas professoras por sala de aula no primeiro ano para reforçar a alfabetização das crianças - e investir em saúde e segurança a curto prazo.

Ao discursar durante 20 minutos no auditório lotado pela militância tucana na Assembléia Legislativa, Serra, porém, não apresentou apenas tópicos de seu programa de governo. Sem citar seu principal adversário, o candidato do PT ao Palácio dos Bandeirantes, Aloizio Mercadante, o ex-prefeito afirmou que São Paulo "não é brinquedo para amadores, aprendiz nem pau-mandado".

"Para governar São Paulo não é preciso apenas achar que pode governar. É preciso ganhar a eleição, é preciso saber governar e ter experiência para isso. São Paulo não é um brinquedo para amadores. Um governador de São Paulo não pode querer pegar carona, nem andar na garupa de ninguém. Não é, nem pode ser, nem aprendiz nem pau-mandado", afirmou, sendo interrompido pelos aplausos dos que presenciaram a oficialização da candidatura.

Do lado de fora, outras 5 mil pessoas - de acordo com estimativa da Polícia Militar - participaram da convenção. A maioria chegou ao local de ônibus, oferecidos por candidatos a deputados. Alguns ganharam R$ 20 ao final do dia - além de lanche - para empunhar bandeiras durante todo o evento.

Serra também não poupou críticas ao governo do presidente e agora candidato à reeleição pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Mais uma vez sem mencionar o nome do antigo adversário, frisou que tucanos não são iguais a petistas. "Sempre soubemos separar governo de partido, Estado de governo. Não nos servimos do governo para atender a nossos interesses pessoais ou de grupo, como fazem os atuais donos do poder", afirmou. "Nossa escala de valores é outra", prosseguiu o candidato.

Pegando carona na onda de escândalos que atingiu o governo de Lula, Serra disse que o PSDB não tem afinidade com "lama". "Tucano não gosta de lama, não tem intimidade com o pântano. Tucano voa", afirmou, referindo-se ao símbolo do PSDB, o tucano.

Já confirmado candidato ao Palácio dos Bandeirantes, Serra avisou que a linha do PSDB é outra: "Ela repudia o confronto cego." Favorito nas pesquisas de intenção de voto, que lhe apontam vitória no primeiro turno, o tucano mostrou confiança na população de São Paulo, que usará, segundo ele, o voto como arma. "São Paulo dirá ao País que não aceita a desonestidade, o imobilismo, a inépcia e o fingimento", destacou.

Para pôr fim a qualquer acusação de pouco engajamento na campanha de Geraldo Alckmin à Presidência, Serra fez afagos ao ex-governador paulista e agora candidato do PSDB ao Planalto. Elogiou a gestão de Alckmin no Estado e o próprio Alckmin, classificado por ele de "um dos melhores cidadãos, tão bem avaliado pelo povo".

Em outro momento do discurso, no qual Serra se emocionou ao lembrar da perseverança de seu pai, também voltou a citar Alckmin, afirmando que no Planalto o tucano "poderá ajudar a fazer o que o atual governo federal não fez" em diversas áreas, como a de investimentos, tecnologia e segurança.

Sempre engajado nas questões nacionais, Serra avisou que como governador, "se assim o povo decidir", será "desinibido porta-voz de São Paulo nas grandes decisões nacionais que afetam a vida dos paulistas". Citou as políticas macroeconômica e nacional de saúde e de segurança, que, para ele, "só trouxeram insegurança".

Ao lado do atual governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), que sucedeu Alckmin, e do prefeito Gilberto Kassab, também pefelista e que assumiu o comando da capital paulista com a sua saída, Serra prometeu trabalhar desde o primeiro dia de mandato e montar equipes de primeira qualidade, competentes e dedicadas.

Aos que o acusaram de abandonar a Prefeitura com apenas 15 meses de gestão para disputar o governo paulista, o tucano explicou: "há lutas que nós escolhemos, e outras lutas que nos escolhem", numa referência ao fato de que deixou o cargo para atingir um apelo partidário. "Batalhas que nos chamam, que exigem nossa presença por nossa história, por nossas convicções, por nossos compromissos. Essa (a disputa ao governo de São Paulo) é uma delas."

Na convenção de ontem, o PSDB delegou à Executiva do partido a escolha do candidato que ocupará o lugar de vice de Serra . Os tucanos admitem que a chapa deverá ser "puro-sangue", mas ainda trabalham na costura política com aliados.

Uma aliança com o PMDB, que lançou Orestes Quércia como candidato, é considerada "remota", só possível em caso de renúncia por parte do peemedebista. Guilherme Afif Domingos (PFL) foi confirmado como nome ao Senado.