Título: Coronel é incógnita política
Autor: Roberto Lameirinhas
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2006, Internacional, p. A20

Apoiado por Chávez, Humala rejeita rótulo de esquerdista

Ollanta Humala, de 42 anos, tenente-coronel da reserva do Exército, nunca exerceu um cargo eletivo. Politicamente, é uma incógnita. Embora tenha o apoio claro da chamada esquerda revolucionária internacional - principalmente do presidente venezuelano, Hugo Chávez -, ele mesmo rejeita o rótulo de esquerdista.'

A posição de Humala no espectro político é dúbia', diz a professora de ciências sociais da Universidade do Pacífico Cynthia Sanborn. 'Quem levar em conta sua origem familiar, as acusações de violação de direitos humanos e a suspeita de envolvimento com o regime de Alberto Fujimori pode concluir que se trata de um nacionalista mais próximo da extrema direita do que da esquerda.'

Humala, da coalizão União pelo Peru, é filho de um advogado nacionalista, Isaac, que durante a campanha para o primeiro turno defendeu a concessão de anistia dos líderes das guerrilhas Sendero Luminoso e Movimento Revolucionário Túpac Amaru - respectivamente Abimael Guzmán e Víctor Polay -, presos em Lima. Sua mãe, Elena, declarou-se publicamente a favor do fuzilamento de homossexuais. Um de seus irmãos, Antauro, está preso por ter liderado uma revolta militar contra o presidente Alejandro Toledo, que deixou oito mortos. Outro irmão, Ulises, também foi candidato à presidência por um partido ultranacionalista.

Como Chávez, Humala tem em seu currículo o comando de uma rebelião militar, em 2000, contra Fujimori. Mas o ex-chefe de inteligência do fujimorismo Vladimiro Montesinos, preso por dezenas de acusações de corrupção e violação de direitos humanos, declarou em juízo que o movimento foi na verdade uma cortina de fumaça. No mesmo dia do levante, Montesinos deixou o país para tentar escapar da Justiça. Humala nega as acusações. Durante a presidência de Fujimori, Humala comandou um batalhão anti-subversivo no sul do país. Alguns habitantes do povoado de Madre Mia o acusam de ter promovido torturas e execuções sumárias, acusações também rejeitadas por Humala.