Título: Ex-líder diz ser o 'mal menor'
Autor: Roberto Lameirinhas
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2006, Internacional, p. A20

García, que teve governo caótico, promete não errar agora

Alan García Pérez, advogado de 57 anos, é um velho conhecido dos peruanos. Por muitos deles, é considerado o pior presidente que o país já teve.

Ele chegou à presidência em 1985, depois de candidatar-se pela tradicional Aliança Popular Revolucionária Americana (Apra), partido de esquerda fundado em 1924 por Víctor Raúl Haya de la Torre com pretensões de tornar-se um movimento continental.

Depois de seis décadas, era a primeira vez que o partido conquistava a presidência da república, mas García meteu os pés pelas mãos.

Sua política econômica, baseada em estatizações, mergulhou o país numa hiperinflação que atingiu mais de 2.700% só em 1989. Nos cinco anos de mandato, passou de 7.200%. No mesmo período, a guerrilha maoísta Sendero Luminoso intensificou sua fúria e cometeu a maior parte dos mais de 60 mil assassinatos - segundo números do Comitê de Verdade e Reconciliação formado pelo governo de Alejandro Toledo.

Durante os anos de governo de Alberto Fujimori, García teve de se exilar para fugir das acusações de corrupção apresentadas contra ele. Nenhuma delas, porém, foi comprovada e o ex-presidente retornou ao país em 2001 - ano em que perdeu o segundo turno da eleição presidencial para Alejandro Toledo.

"A força de García está na popularidade de seu partido e no seu inegável carisma", diz o titular da cadeira de Ciências Políticas da Universidade Nacional de Lima, Anibal Camacho. "Nestas eleições, é favorecido também pelo receio da população a seu adversário, Ollanta Humala."

Durante a campanha, García não hesitou em apresentar-se como o "mal menor" para o eleitor. Assegurou que não repetirá os erros do passado e esforçou-se em ressaltar os vínculos entre seu adversário e o presidente venezuelano, Hugo Chávez - que, por seu lado, também não hesitou em qualificá-lo de "corrupto" e "ladrão".