Título: Para antropólogos, questão da terra é o maior motivo da violência contra índios
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2006, Nacional, p. A12,13

A ocupação de áreas indígenas por grandes fazendas, o confinamento dos índios a espaços exíguos, a busca pela reconquista das aldeias a partir dos anos 70 e o preconceito são apontados por antropólogos e especialistas como os motivos que levaram Mato Grosso do Sul a ser o Estado com os maiores índices de violência contra o índio.

"A região sul, que é território guarani, era densamente ocupada por índios. O que o governo fez, entre de 1915 e 1928, foi demarcar 8 pequenos pedaços de terras para usufruto dos guarani-caiovás", conta o antropólogo Antonio Brand. "Só que esses 8 pedaços somavam 18.200 hectares, o que é nada. Há relatórios de 1948 em que o governo reconhece que as áreas que demarcou eram insuficientes."

Para a antropóloga Lucia Helena Rangel, o processo foi evoluindo. Hoje, nas áreas mais populosas onde vivem os guarani-caiovás de Mato Grosso do Sul, o índice de terra por habitante é o menor do País - menos de 1 hectare por índio. "Os guarani-caiovás foram ao logo da história empurrados para as 8 reservas como se varre a sujeira para de baixo do tapete", critica Egon Heck, do Cimi.

Com o confinamento, começaram os problemas de alcoolismo, brigas, estupros, mortalidade infantil e suicídios. "Não há outra região do País onde se verificou processo de confinamento tão radical da população indígena, num período extremamente rápido", diz Brand.